Crítica disco

Álbum retoma canções instigantes e faz ligação direta com a cantora dos anos 70

Patti Smith escreve poesia. Desde sempre. No entanto, em certa hora na vida ela caiu no rock e por ali ficou, com a boa ajuda de seu guitarrista, o ex-jornalista Lenny Kaye.

Entre 75 e 79, lançou quatro discos fortes para ser transformada na "lady Rimbaud" do punk de Nova York.

"Banga", seu décimo disco de estúdio com inéditas, tem saudável e direta relação com essa produção inicial.

Nos álbuns lançados a partir dos anos 80, a poesia preservou seu impacto, mas a música caiu em fórmulas simples. Patti parecia não ligar mais para a moldura sonora que dava a suas letras.

"Banga" retoma a construção de canções instigantes, deixando de lado a preguiça. Talvez o disco de covers, "Twelve", tenha influência no novo álbum.

Ao recriar naquele trabalho músicas de artistas tão diferentes quanto Rolling Stones, Doors e Tears For Fears, ela voltou-se para os arranjos.

"Banga" parece disco "irmão" de "Twelve" na sonoridade refinada que deixa cada faixa com forte identidade.

Assim, "Fuji-san" é rock conectado em Jimi Hendrix, grande influência de Patti e de Lenny Kaye. "This Is the Girl", balada escrita para Amy Winehouse, é tão cortante quanto "We Three", que ela gravou em 1978 e virou referência de balada roqueira para cortar os pulsos.

Com tramas instrumentais complexas, as faixas capturam o ouvinte até nas letras mais esquisitas. E Patti sempre tem um punhado delas.

Funciona desse jeito na singeleza quase infantil de "Nine", na delirante peça sobre viagens de Américo Vespúcio em "Amerigo" ou nos longos minutos de "Constantine's Dream", um improviso sem freio.

Há mais uma característica de "Banga" que já bastaria para destacá-lo na discografia de Patti: é um álbum alegre, quase solar quando comparado a clássicos de poesia angustiada como "Horses" (1975) e "Wave" (1979).

Aos 65 anos, ela começa uma nova e produtiva fase na carreira? Seria muito bom.