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Crítica artes

Bienal de Berlim é raro espaço para a ousadia

Criticada, mostra opta por utilizar a arte para abordar questões sociais e viabilizar novas formas de ativismo político

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Confusa, contraditória e suja, a 7ª Bienal de Berlim, que recebe visitantes até o dia 1º de julho, não se esquiva da alta temperatura dos problemas enfrentados pela sociedade contemporânea.

Do conflito Israel-Palestina, passando pelas memórias alemãs da Segunda Guerra (1939-45), às pichações na cidade de São Paulo, a mostra evita abordar tais questões por meio de obras convencionais; usa a arte para viabilizar propostas e novas formas de ativismo.

Um bom exemplo é a ação do artista Khaled Jarrar, que criou um carimbo de entrada no Estado da Palestina. Os visitantes da Bienal podem colocá-lo em seus passaportes, como atestam dezenas de fotos em um dos andares do Kunst-Werke, espaço que serve de sede à bienal.

Com curadoria do artista polonês Artur Zmijewski, a mostra tem como título "Forget Fear" (esqueça o medo). "O modelo curatorial que adotei não está baseado em administrar objetos, selecioná-los, transportá-los, fazer um seguro e pendurá-los na parede", explica Zmijewski, no catálogo da mostra.

Ele diz que sua função foi "negociar posições políticas conflitantes que visavam ações artísticas".

O curador explica que o mote "esquecer o medo" vem do fato de que "a única coisa que pode, de fato, demolir esse modelo de trabalho é o medo, a angústia petrificante de causar efeitos reais e ter responsabilidade sobre eles".

Com isso, a Bienal de Berlim leva ao limite aquilo que teve início, em 1997, na Documenta de Kassel, quando a curadora francesa Catherine David apontou o ativismo político como forma de poesia.

OCUPAR VAZIOS

A questão agora é que Zmijewski praticamente contradiz a própria ideia de espaço expositivo, já que muitas obras sequer estão em exibição; simplesmente aparecem enumeradas no catálogo.

O escultor Olafur Eliasson, por exemplo, participa concedendo uma bolsa de estudos a políticos de Berlim interessados em desenvolver pesquisas no Instituto para Experimentos no Espaço, que ele próprio dirige. Zmijewski acredita que, dessa forma, artistas e políticos poderiam "entender o que arte e política representam".

Quando há algo em exposição, o que se vê difere do cenário de outras bienais. A imensa sala central, por exemplo, mimetiza as ocupações estudantis que mobilizaram Madri, Nova York e outras cidades nos últimos anos.

"Occupy BB7" (Ocupe a 7ª Bienal de Berlim), contudo, não é uma ilustração de tais manifestações, mas ela própria um espaço de mobilização que, ao menos no último sábado, tinha a vitalidade das ocupações reais das outras localidades.

Do Brasil, participa apenas o grupo de Sergio Franco, Djan Ivson Silva e Rafael Guedes, aqueles que picharam a 28ª Bienal de São Paulo, a Bienal do Vazio, em 2008, e depois foram convidados para a 29ª Bienal para exibir registros de suas ações.

Em Berlim, eles não participam com registros de suas ações, mas oferecem um "workshop de ativismo", neste sábado, na igreja Santa Elisabeth, outra sede da mostra.

Por seu caráter excessivamente militante e por seus espaços expositivos confusos, a Bienal de Berlim tem sido muito criticada. Mas num circuito de mostras tão pouco ousadas e contidas, a edição acaba ganhando um caráter histórico.

7ª BIENAL DE BERLIM
AVALIAÇÃO bom

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