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Trio jazzista apresenta sua conexão EUA-Cuba

Projeto "Ninety Miles" mescla as influências musicais dos dois países

Stefon Harris, David Sánchez e Christian Scott trazem seu trabalho mais recente ao BMW Jazz Festival

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No universo do jazz, é comum ver músicos se encontrarem para tocar juntos sem jamais terem se visto antes.

Dois anos atrás, o vibrafonista Stefon Harris, 39, o saxofonista David Sánchez, 43, e o trompetista Christian Scott, 29, conceituados jazzistas e compositores, experimentaram algo semelhante.

"Ninety Miles", o CD/DVD que gravaram juntos, praticamente sem se conhecerem, resultou em um dos projetos musicais mais criativos do ano passado.

"A gravadora é que veio com a ideia de fazer o disco em Cuba. Mas, em vez de tocar com músicos famosos de lá, iríamos trocar experiências com músicos jovens e ainda pouco conhecidos. Esse era o conceito", conta o porto-riquenho Sánches, em entrevista exclusiva à Folha, por telefone.

Assim nasceu o projeto coletivo Ninety Miles (referência à distância de 90 milhas que separa Cuba dos EUA), cuja música poderá ser apreciada ao vivo, por paulistas e cariocas, durante a segunda edição do BMW Jazz Festival.

O evento começa nesta sexta, no Via Funchal, em São Paulo. Sánchez, Harris e Scott se apresentam juntos no domingo (em São Paulo) e na segunda-feira (no teatro Oi Casa Grande, no Rio).

"Apesar de todas as dificuldades, das condições precárias em que vivem aquelas pessoas, para mim foi muito valioso ter contato com uma cultura que dá tanto valor à arte, como a dos cubanos", afirma o norte-americano Stefon Harris. "A arte faz parte da vida cotidiana daquelas pessoas. Todos demonstram amar a música."

Os três jazzistas também enfrentaram dificuldades durante a semana que passaram na ilha caribenha.

"Tocamos em um belo teatro, mas sem ar condicionado. Foi um desafio tocar naquelas condições, como se estivéssemos em uma sauna. Achei que poderia desmaiar tal era o calor lá dentro", relembra Sánchez, calculando que a temperatura no teatro era de, pelo menos, 40ºC.

Mesmo assim, a sala se manteve lotada. "O mais fascinante foi ver as pessoas ficarem até o final do concerto, sedentas por ouvir mais música", observa Sánchez.

"A música de Cuba parece uma representação sonora de quem eles são como pessoas. É uma das mensagens mais belas que já conheci na arte", reflete Harris.

Vale lembrar que um projeto como esse jamais aconteceria até poucos anos atrás.

O embargo econômico que os Estados Unidos impõem a Cuba desde 1962 ainda está em vigor, mas a administração do presidente Barack Obama relaxou as restrições para que os norte-americanos viajem à ilha, especialmente no caso de projetos de caráter cultural.

"Nos Estados Unidos, você é lembrado a toda hora de que as pessoas têm níveis sociais diferentes. Em Cuba, as pessoas se vestem de modo parecido e todos os carros se parecem. Lá você não vê a divisão social e econômica que existe nos EUA", comenta o vibrafonista, comparando os dois países.

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