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Livro estuda as inovações de compositor nos anos 30

Obra de Mayra Pinto fala das contribuições de Noel para a canção popular

Publicação pode ser proibida pela família do sambista, como ocorreu com biografia

LUCAS NOBILE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mais de 75 anos depois da morte de Noel Rosa, o nome do compositor de Vila Isabel segue envolto em polêmicas.

Acaba de ser lançado o livro "Noel Rosa: O Humor na Canção" (Ateliê Editorial), resultado da tese de doutorado de Mayra Pinto pela Universidade de São Paulo (USP).

A obra analisa os aspectos artísticos de Noel -ele atuou somente seis anos como compositor e morreu aos 26, vítima de tuberculose.

São esmiuçados no livro o uso do humor e da ironia, a quebra do estereótipo do malandro, a profissão de sambista e a linguagem coloquial de Noel. Sua entoação (seguindo a escola de Mario Reis, ao cantar de modo mais falado) também é explorada, assim como o fato de não ser um sambista do morro, como as figuras do Estácio, e a célebre rusga poética entre o Poeta da Vila e Wilson Batista.

"Ele usava um humor sofisticado, e o samba não tinha prestígio nos anos 1930. Além da originalidade, Noel sempre teve uma postura de confronto em relação às forças dominantes", diz Mayra.

"Hoje, a pesquisa de música popular brasileira está mais substanciosa. Não posso deixar de citar o acervo do Instituto Moreira Salles e a caixa do Omar Jubran ["Noel Pela Primeira Vez"], que me ajudaram demais."

BIOGRAFIA PROIBIDA

Mesmo sem levantar passagens biográficas, dedicando-se apenas a uma investigação artística da obra de Noel, o livro de Mayra deve enfrentar problemas judiciais com a família do sambista.

"Tecnicamente, este livro está ilegal. Tudo que envolva o uso do nome ou da imagem -da marca Noel Rosa- está sujeito à autorização das herdeiras", diz Élio Joseph, 74, representante legal das sobrinhas de Noel, as irmãs Maria Alice Joseph, 70, com quem ele é casado, e Irami Medeiros Rosa de Melo, 72.

"Nós vamos analisar este livro, estamos abertos a negociações. Caso contrário, vamos ver as medidas cabíveis, como aconteceu com o livro de Máximo e Didier".

Amparada na Constituição e no Código Civil, a família segue com processo, em Brasília, contra a editora da UnB (Universidade de Brasília), João Máximo e Carlos Didier, autores de "Noel Rosa - Uma Biografia".

Lançado em 1990, o livro ficou em circulação até 1994, com 15 mil cópias vendidas. Desde então, virou raridade e teve seu preço inflacionado em sebos. A livraria Luzes da Cidade, em Botafogo, cobra R$ 1.000 por um exemplar.

"A família nos cobra R$ 50 mil. Se existisse uma editora mais ousada, ela daria esse valor, e o livro até poderia sair novamente. O negócio das herdeiras é dinheiro. Não estão preocupadas com a moral da família", diz Máximo.

"Esse valor, de R$ 50 mil, não procede. Nenhum dos autores entrou em contato conosco. Se existir um acordo, vamos estudar e ver o que é mais favorável para nós e para eles", responde Joseph.

MODIFICAÇÕES NA LEI

Além do livro de Máximo e Didier, o embate entre autores e biografados ou seus herdeiros é comum. Foi assim com Roberto Carlos e Paulo Cesar de Araújo); herdeiros de Garrincha e Ruy Castro ou com o espólio de Guimarães Rosa e Alaor Barbosa.

O projeto de lei 395/2011, representado pela deputada Manuela D'Ávila (PC do B-RS), que permitiria a divulgação de informações biográficas e de imagens de figuras públicas, continua parado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) desde fevereiro do ano passado, sem previsão de avanços.

"Biografia não é livro de fofoca, fala da história de um país", diz a deputada.

"O Brasil está muito atrasado. Steve Jobs morreu e ganhou cinco biografias. Imagina se os filhos do Napoleão tivessem impedido as biografias dele? É a história da França, não de uma pessoa."

NOEL ROSA: O HUMOR NA CANÇÃO
AUTOR Mayra Pinto
EDITORA Ateliê Editorial
QUANTO R$ 35 (205 págs.)

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