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Transversal do tempo

Prêmio da Música Brasileira e nova turnê celebram 40 anos de carreira de João Bosco, que trafega entre a tradição e o novo na MPB

Karime Xavier//Folhapress

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

Quando João Bosco subir ao palco do Teatro Municipal do Rio, hoje à noite, para ser homenageado na cerimônia do Prêmio da Música Brasileira, levará consigo seu violão, 40 anos de carreira e quase um século de MPB.

"Minha música vem de grandes compositores brasileiros. O prêmio é uma homenagem para alguém que representa uma série de outras pessoas e caminhos da música brasileira", diz o mineiro de Ponte Nova.

É assim que Bosco fala de si mesmo: remetendo a suas influências, seus mestres, seus colegas. De precursores como Dilermando Reis (1916-1977), Dorival Caymmi (1914-2008) e Baden Powell (1937-2000) até a geração anterior à sua, de Paulinho da Viola, Milton, Caetano, Gil e Chico.

Os 40 anos de carreira que se celebram agora são contados a partir de sua primeira gravação, "Agnus Sei", lançada num disco de bolso do "Pasquim", em 1972.

O marco zero poderia, no entanto, regredir dois anos, para seu encontro com Aldir Blanc, seu "parceiro de fé", com quem fez mais de uma centena de músicas, incluindo seus maiores clássicos.

Ou então ao início dos anos 60, quando começou a desenvolver seu estilo ao violão, que define como "irrequieto" (pela diversidade de influências) e "barroco", pelas raízes em Ouro Preto (MG), onde estudou engenharia e desenvolveu seu tino musical num ambiente de "botequim, noite, de violão com cerveja".

Se a intimidade com o violão veio cedo, o desenvolvimento vocal tardou -Bosco, que não teve educação musical formal ("Mas deveria ter tido", diz hoje), vê seu "amadurecimento vocal" se dar a partir de "Gagabirô" (1984), seu décimo álbum.

"Antes disso eu cantava, mas sabia que tinha Elis Regina. Ela gravava as músicas antes de mim e isso me deixava à vontade, sentia menos compromisso com o cantar."

SEM PRESSA

Hoje, a um mês de completar 66 anos, Bosco diz não ter mais "o açodamento da juventude, aquela pressa de resolver logo, de cantar alto".

"A maturidade ensina que você tem de administrar os seus recursos. Hoje eu consigo fazer um show de 25 músicas usando todos os meus recursos vocais e chegar inteiro ao fim. Antes, eu saía exausto do palco."

O lado negativo dos anos de experiência? "Ter de se desvencilhar de tudo aquilo que você e outras pessoas já fizeram, que é muita coisa. Por outro lado, isso te leva a atalhos, que demandam uma compreensão e uma sabedoria muito maiores."

O que o tempo não atenuou foi a inquietação, a busca pelo novo e a paixão pela música popular, mesmo a estrangeira -Bosco disse ter ido à recente edição do festival Sónar para ver Cee Lo Green.

No mesmo evento, assistiu ao show do rapper Criolo, e gostou do que viu.

"Vi um compositor fazendo dessa ferramenta, o hip-hop, um ponto de afinidade com a história da música brasileira. Esse menino Criolo entende isso, a música dele tem um passado."

Por isso, vê todo o sentido na participação de jovens como o citado rapper e a paraense Gaby Amarantos na cerimônia de hoje à noite, interpretando seus sucessos -assim como colegas com longa história, como Ney Matogrosso e Milton Nascimento.

O próprio homenageado também mostrará quatro de seus clássicos durante a homenagem: "O Bêbado e a Equilibrista", "O Mestre-Sala dos Mares", "Papel Machê" e "Desenho de Giz".

Depois, os levará em turnê (dividindo o palco com Leila Pinheiro e Mariana Aydar) por oito cidades, encerrando em São Paulo, em 11 de julho.

JOÃO BOSCO
QUANDO: 11/7, às 21h
ONDE: Teatro Abril (av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, São Paulo;
tel. 0/xx/11/2846-6060)
QUANTO: grátis; inscrições no site www.premiodemusica.com.br, no dia 9/7

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