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Goeldi viveu rejeição familiar e exílio

Direitos sobre a obra do artista, hoje sob cuidados da família, foram deixados em testamento para Béatrix Reynal

Amiga de Goeldi cuidou da difusão de sua obra até a morte; depois parentes criaram associação cultural

DO CRÍTICO DA FOLHA

"O Ateliê de Goeldi", com curadoria da sobrinha-neta do artista, Lani Goeldi, 53, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), representa uma mudança significativa na forma como a família do artista trata sua obra.

Afinal, não foi para seus parentes sanguíneos que Goeldi deixou a responsabilidade da manutenção de seus trabalhos.

"A minha obra artística ficará toda com Béatrix Reynal (1892-1990), que cuidará da sua colocação em museus nacionais ou estrangeiros, ou disporá dela como melhor entender", escreveu o artista, em seu testamento.

A confiança em Reynal vinha de longa amizade. Foi ela quem o resgatou de uma espécie de exílio, a que seu cunhado Martin Wegner, casado com sua irmã mais nova, Matilde, o condenou.

O pai de Goeldi, o naturalista suíço Emilio Augusto Goeldi, morreu em 1917. Wegner, na época um dos melhores amigos do artista, passou a dominar a família.

Ele obrigou Goeldi a formalizar a desistência da parte que lhe cabia na herança paterna, expulsou-o de casa e, com apenas um conto de réis, o enviou, em 1922, para a Europa, segundo a pesquisadora Laeticia Jensen Eble, em dissertação defendida na Universidade de Brasília no ano passado.

A rejeição seria motivada pela vida boêmia e pela obra sombria do artista.

Foi Reynal, uma poetisa uruguaia de origem francesa, quem o trouxe de volta e, com seu marido, Reis Júnior, ajudou o artista financeiramente. "Após a morte do Goeldi, Béatrix imprimiu alguns de seus trabalhos e cuidou muito bem da difusão de sua obra", conta o curador Paulo Venâncio Filho.

"Béatrix e seu marido morreram sem deixar herdeiros, o que fez com que os direitos voltassem para a família e, por isso, nós criamos uma associação cultural, há dez anos, para preservar sua obra", diz Lani.

Curiosamente, as obras de Goeldi nunca estiveram penduradas na casa de seu avô, Edgar, um dos seis irmãos do artista. "Ele considerava aquelas obras muito tristes, obscuras", conta. No entanto, ressalta a sobrinha-neta, "meu avô sempre foi o elo entre ele e a família, e os pertences pessoais do Goeldi ficaram com ele".

MOSTRA DO ATELIÊ

Segundo o diretor-superintende do MAM, Bertrando Molina, foi Lani quem sugeriu a mostra sobre o ateliê de Goeldi: "Nós ficamos interessados na mostra e dissemos que a faríamos se, ao mesmo tempo, pudéssemos organizar uma grande mostra que contextualizasse o artista".

De acordo com Molina, o museu pagou R$ 24 mil para a Associação Artística e Cultura Oswaldo Goeldi pelo direito de imagem das 240 obras que estão nas duas mostras em cartaz.

O valor é bem inferior ao pago para a Imagem Ação, empresa que cobrou R$ 100 mil para a retrospectiva de Alfredo Volpi, no MAM, em 2006, que tinha quase cem obras a menos.

Segundo Lani, o dinheiro será utilizado para viabilizar uma publicação didática sobre o artista. "Muitas vezes nós nem cobramos pelo direito de imagem, só queremos saber a origem dos trabalhos para ajudar na catalogação", diz. (FABIO CYPRIANO)

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