Em 'Gabriela', Wilker vai de progressista a coronel

Não é só no Planalto Central que as fronteiras entre oposição e governo, direita e esquerda estão cada vez mais tênues. Na ficção, a roda da política também gira.

É assim para José Wilker na nova versão de "Gabriela", que a Globo estreia amanhã.

Na leitura de Walcyr Carrasco para "Gabriela, Cravo e Canela" (1958), de Jorge Amado (1912-2001), entra Juliana Paes no papel icônico que foi de Sônia Braga em 1975.

Wilker volta a integrar o elenco, mas surge em nova pele: troca as ideias progressistas do exportador de cacau Mundinho Falcão, personagem dele na primeira versão da novela, pelo ranço e pela brutalidade do coronel Jesuíno Mendonça.

"'Gabriela' é um clássico da dramaturgia brasileira. Soltei foguetes quando fui convidado para fazer essa nova versão. De todas as mulheres de Jorge Amado, é a que eu considero mais intensa e divertida", diz o ator à Folha.

No livro, Jesuíno é um líder conservador da Ilhéus dos anos 1920. Ele mata a mulher, Sinhazinha (Maitê Proença), e o amante dela, o dentista Osmundo Pimentel (Erik Marmo), ao flagrá-los na cama.

"Era como se limpava a honra em Ilhéus e em outros cantos do país na época. O que não quer dizer que isso não continue acontecendo atualmente. Pessoalmente, acho que a honra não se limpa com sangue", diz Wilker.

A Globo promete que a nova versão televisiva será mais fiel à trama de Jorge Amado do que a anterior.

MUSO DE JORGE

"Gabriela" não é a única obra de Amado em que Wilker atuou. Em 1976, ele interpretou o malandro Vadinho na adaptação para o cinema de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", dirigida por um então iniciante Bruno Barreto.

Até o lançamento de "Tropa de Elite 2" (2010), aquele filme detinha o recorde de público de produção nacional no cinema, com mais de 10 milhões de espectadores.

O currículo amadiano de Wilker ainda vai crescer. Recentemente, o ator encerrou sua participação nas filmagens de "As Fantásticas Aventuras de um Capitão", de Marcos Jorge ("Estômago"), ainda sem data de lançamento.

A produção é baseada no romance "Os Velhos Marinheiros ou O Capitão-de-Longo-Curso" (1961), também de Amado. "Posso me considerar uma espécie de muso de Jorge Amado. É uma honra."