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Teatro

Palco londrino recebe texto de brasileiro

Com "O Ritual", Samir Yazbek é o primeiro autor do país a ter obra apresentada no prestigioso National Theatre

Peça, sobre jovens que se reúnem para buscar relacionamentos sem afeição, integra o festival Conexões

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES

O dramaturgo Samir Yazbek se tornará hoje o primeiro autor brasileiro a ter uma peça encenada no prestigioso National Theatre, em Londres, com apresentação que integra o festival Conexões.

"O Ritual" foi escrito depois de Anthony Banks, diretor do festival, pedir a autores brasileiros uma sinopse de texto com temática jovem para participar da versão britânica do projeto -o Conexões já tem uma vertente no Brasil desde 2007.

Yazbek conta à Folha que queria "investigar o tom refratário da sociedade contemporânea a qualquer vínculo mais sólido". Assim surge o protagonista Joel, que propõe aos amigos a criação de encontros semanais para que esqueçam do amor e busquem relacionamentos sem envolvimento ou afeição.

A jovem Lia dá o nome de "ritual" aos encontros, mas é Joel quem define que a frase "pela força dos nossos espíritos" seja dita ao fim de cada reunião do grupo.

O dramaturgo contrapõe a proposta aparentemente positiva a ações cada vez mais graves e preocupantes, que põem em risco a vida dos adolescentes. "O bordão definido por Joel se contrapõe ao fato de os jovens terminarem a peça mais confusos e perdidos do que começaram", observa Yazbek.

Para o autor, a peça mostra a "construção de um ritual empobrecedor, esvaziante, incapaz de preencher o sentido da vida".

O texto foi traduzido para o inglês pelo dramaturgo Mark O'Thomas; a encenação fica a cargo de jovens do Rotherham College, cuja montagem foi selecionada pela equipe do National Theatre para a apresentação de hoje. No fim do ano, o texto será encenado no Brasil, com direção do próprio autor.

Yazbek conta que, durante o processo de escrita, a equipe do teatro sugeriu que, como brasileiro, ele aprofundasse a questão de rituais afrodescendentes -o que não foi incluído no texto.

"Tive que explicar que a cultura urbana paulistana não usa esses elementos e que é muito parecida com a cultura de outras metrópoles, como Londres e Nova York. Houve alguns atritos de visão, naturais, porque os britânicos são mais clássicos, mas foi muito produtivo ao final", afirma o dramaturgo.

Para Rob Watt, produtor do festival Conexões, um dos atrativos da peça é justamente a sua universalidade, mas com uma paixão característica do Brasil.

"Os jovens das companhias britânicas que encenaram o texto assimilaram bem suas questões e reconheciam os conflitos dos personagens", afirma Watt.

Ansioso por saber como o público receberá o espetáculo, Yazbek -vencedor do Prêmio Shell de melhor autor em 1999 por "O Fingidor" e do Prêmio APCA em 2010 por "As Folhas do Cedro"- assistirá à montagem.

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