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'Fiquei impressionado com o Rio', afirma Woody Allen

Diretor reitera desejo de filmar na cidade, mas admite medo da violência

"Sinto que sou pago para fazer algo de que gosto", diz Allen, que não tem planos de se aposentar tão cedo

DE LOS ANGELES

Num quarto de hotel de luxo em Los Angeles, um homem baixinho me aguarda de pé, com seu chapéu estilo pescador em cima da mesa.

Quando me olha e estende a mão para um cumprimento, me pergunto se caí num filme e me enrolo no inglês.

Woody Allen não me entende. Capricho na pergunta mais uma vez e engatamos uma conversa sobre Itália, Rio de Janeiro e sobre sua música favorita para cantar no chuveiro. Leia trechos:

(FERNANDA EZABELLA)

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Folha - Por que achou Roma tão exótica?

Woody Allen - As pessoas vivem "outdoor", sabe? Em outros países, você vai à casa de alguém, vai a restaurantes. Na Itália, as pessoas saem às ruas e ficam lá fora, nos terraços, na parte externa dos cafés. Perto da casa em que você mora tem a arquitetura mais moderna do mundo e também tem coisas com milhares de ano de idade, lado a lado. É muito diferente.

Seu personagem não se conforma com a aposentadoria. O senhor se conformaria?

É uma coisa pessoal, é de cada um. Conheço pessoas que se aposentaram e estão muito felizes. Viajam, vão pescar. Não gostaria de me aposentar porque eu não sinto que trabalho. Sinto que sou pago para fazer algo que gosto. Nada do que os aposentados fazem me interessa. Não quero pescar nem viajar. Não quero ir à praia nem brincar com crianças o dia todo.

Um dos personagens do filme só consegue cantar ópera no chuveiro, o que deixa seu personagem maravilhado. De onde veio essa ideia?

Eu canto no chuveiro, e muitas pessoas que conheço também. Elas acham que, porque o chuveiro é feito de azulejos, a voz ressoa melhor. Ou por causa dos íons positivos. É uma teoria maluca.

Talvez a razão mais lógica seja que não dá para você se escutar muito bem, porque a água faz barulho. Quando eu canto no chuveiro, acho que canto como Frank Sinatra. Mas quando desligo o chuveiro é terrível.

E o que o senhor canta?

Canções populares dos anos 1940. Às vezes, se não consigo pensar numa ideia quando estou escrevendo, posso ir tomar um banho e, no chuveiro, as ideias vêm mais facilmente.

O senhor já trabalhou com Larry David ("Tudo Pode Dar Certo"), agora com Roberto Benigni e no próximo longa com Louis C.K. Como é trabalhar com outros comediantes?

A gente nunca conta piadas, não, não. Sabe, fazer filmes é uma coisa muito séria, tediosa. Não é engraçado.

Eles são caras engraçados para conversar e tal -mas, para trabalho, não são tão engraçados. Com Benigni, fiquei surpreso. Achei que não seria capaz de acalmá-lo, que ele seria maluco, mas nada. É calmo, charmoso, intelectual. Uma ótima experiência, não esperava isso.

Quando irá filmar no Rio?

O Rio tem sido uma de nossas prioridades. Estamos considerando. Minha irmã [sua produtora] foi ao Rio dar uma olhada, e ficamos muito impressionados.

A violência da cidade seria um problema?

Para mim, sim! Fico assustado. A publicidade em torno de lá é ruim. Nova York teve o mesmo problema anos atrás, mas, para quem morava em NY, não tinha nada, ninguém via nada, nada acontecia. Mas, quando você lia o jornal, NY parecia a Chicago dos anos 1920. Talvez seja o caso do Rio. Não consigo imaginar sendo assustador. É?

Acho que o senhor estaria seguro. O que gostaria de filmar por lá?

Como um turista americano que nunca foi ao Rio, a impressão que tenho é de fotos, mitologias, bossa nova, coisas que cresci ouvindo, vendo. E as imagens da praia.

Há muitos países interessantes, mas que não têm uma sensibilidade romântica, como a Alemanha ou a Colômbia. Para mim, o Rio é uma daquelas cidades românticas.

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