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Cinema nacional aposta nas comédias

Com expectativa de salvar bilheterias no país, "E Aí... Comeu?" estreia em 550 salas e consolida tendência de apelo sexual

Longa protagonizado por Bruno Mazzeo deve ser o primeiro brasileiro a bater 1 milhão de espectadores em 2012

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

O cinema brasileiro apostou em caras famosas da TV e criou pretensos blockbusters em 2012.

Mas nenhum filme nacional conseguiu ultrapassar a marca de 1 milhão de espectadores neste primeiro semestre -no ano passado, durante o mesmo período, quatro longas romperam a barreira.

Pior: a soma do público dos dez maiores filmes brasileiros do ano até agora, cerca de 2,7 milhões, não alcança a do maior filme do ano passado, "De Pernas pro Ar", com 3 milhões de pagantes.

A missão de mudar o quadro agora cai sobre os ombros de Bruno Mazzeo e sua comédia "E Aí... Comeu?", que estreia hoje em 550 salas.

A confiança no filme, baseado em peça de Marcelo Rubens Paiva, não é um fenômeno isolado. Nos últimos cinco anos, o gênero que dominava o mercado da metade dos anos 1970 até o fim dos 80 -por causa do sucesso de "Os Trapalhões"- ressurgiu.

Nos últimos seis anos, os filmes espirituais ("Nosso Lar" e "Chico Xavier") e a franquia "Tropa de Elite" foram os únicos dramas a figurar entre as maiores bilheterias brasileiras do século -os outros cinco são comédias.

Já nos cinco primeiros anos da década passada, a tendência era outra. Apenas duas comédias entraram na lista: "Os Normais" e "Lisbela e o Prisioneiro", ambos de 2003.

"É um momento estranho", diz o cineasta Jorge Furtado, autor do texto de "Lisbela e o Prisioneiro". "A comédia tem a vantagem do julgamento instantâneo: ela é engraçada ou não."

"É um gênero mais fácil de produzir. Só precisamos de um bom texto e um bom comediante. Ganhar R$ 20 milhões com um filme de R$ 4 milhões é melhor", fala Bruno Wainer, sócio-diretor da Downtown Filmes, coprodutora dos filmes mais vistos do ano passado, os humorísticos "De Pernas pro Ar" e "Cilada.com", que, somados, renderam cerca de R$ 55 milhões.

Augusto Casé, produtor dos três longas de Bruno Mazzeo, inclusive do novo "E Aí... Comeu?", acredita que a ascensão do humor no cinema brasileiro serve para "ocupar as lacunas que as comédias americanas preenchem".

SEXO

No entanto, há uma tendência sexual nas comédias recentes. Seja uma mulher que cuida de um sex shop ("De Pernas pro Ar"), seja um homem provando que é bom de cama ("Cilada.com").

"A comédia muda de acordo com a sociedade. O humor reflete isso e podemos fazer comédias mais arrojadas e com viés sexual", diz José Alvarenga Jr., diretor de "Os Normais" e "Cilada.com".

Renato Aragão, dono de dez filmes no top 20 das maiores bilheterias do cinema nacional, afirma que as piadas pesadas não o seduzem a retornar aos cinemas. "Não faria um filme apelativo nem se passasse necessidade", confessa o comediante, que prepara um desenho em 3D com seu Bonga, o vagabundo.

O momento da comédia causa distorções. O diretor Fernando Meirelles desistiu de filmar a adaptação de "Grande Sertão: Veredas" por achar "que não compensaria o alto custo e o investimento em tempo e dinheiro".

"Ainda bem que existem essas comédias que andam sustentando nossa indústria nestes últimos anos. Infelizmente, o mesmo não acontece com os nossos dramas", diz o cineasta, que ficou decepcionado com os 340 mil pagantes de sua produção, o drama "Xingu".

"Sou coprodutor do filme e não achei que passaria de 500 mil espectadores em função de ser contado de forma quase documental, sem emoção", rebate Carlos Eduardo Rodrigues, diretor-executivo da Globo Filmes.

O fracasso do longa dirigido por Cao Hamburger reflete o péssimo ano para o cinema nacional, que enfrenta uma queda de mais de 60% em público e renda em relação a 2011.

No segundo semestre, alguns longas podem ajudar a diminuir o prejuízo, como "Gonzaga, de Pai para Filho", "Até que a Sorte nos Separe" e "Os Penetras".

"Se estes filmes não funcionarem, retrocederemos 15 anos", analisa o executivo da Globo Filmes.

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