Obra narra tramas mórbidas com leveza

Além das considerações de natureza teórica do autor Pedro Eiras, "Substâncias Perigosas" traz como atrativo curiosas histórias pessoais de grandes nomes da literatura.

A primeira figura a ser investigada com minúcia é o mítico escritor português Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), que cometeu suicídio aos 25 anos.

No livro, Eiras afirma que seu célebre conterrâneo "trabalhou a morte como uma obra de arte privada" e que pouco se pode conhecer dele, pois "todas as novelas, poemas e cartas que Sá-Carneiro deixou constituem a encenação de uma personagem".

O segundo autor do cânone literário a ser analisado é Goethe, que não se matou, mas causou torrenciais ondas de suicídios na Europa com o ato radical de seu personagem em "Os Sofrimentos do Jovem Werther".

Será que Eiras cita Sarah Kane, dramaturga britânica que tomou uma overdose de medicamentos, foi salva, mas conseguiu se matar no hospital dois dias depois, enforcando-se com os laços do sapato? Pode apostar que sim.

A habilidade de Eiras consiste em discorrer sobre essas tramas mórbidas de modo leve, provocando o leitor por meio de ironias e especulações conceituais.

"Mais uma vez, é um trabalho para o leitor: compreender que cada afirmação é apenas local, pontual, vale o que vale. O que é verdade num parágrafo já é mentira no parágrafo seguinte."

Talvez por isso, os últimos seis capítulos do livro vão ameaçando encerrar a obra, sem, contudo, terminá-la.

Até que chega o capítulo derradeiro, quando convida os leitores a finalizarem o livro com seus "venenos".

A obra e a reportagem terminariam aqui, não fosse o convite para que o autor escrevesse para a Folha outra lição, "onde se dão mui variados & instrutivos exemplos ao alcance do comum dos mortais" -ufa, terminou o imenso título. (MARCIO AQUILES)

SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS
AUTOR Pedro Eiras
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$34,90 (216 págs.)