Escritor faz literatura de qualidade para as massas

Para os franzenmaníacos, "Liberdade" e "Correções", os grandes romances de Jonathan Franzen, são "Guerra e Paz"no Meio-Oeste dos Estados Unidos. Nada mais, nada menos.

Os literatos quase enfartam com a comparação.

Mas Franzen conseguiu uma proeza. Faz literatura de qualidade para as massas e convive na lista dos mais vendidos com porcarias de sucesso como "Cinquenta Tons de Cinza", de E L James.

Os romances com sua grife são narrativas longas e ambiciosas, que traçam um panorama da vida na imensidão dos subúrbios da classe média americana.

O leitor sempre vai encontrar determinados ingredientes nas obras do autor, tanto nos romances como nos seus livros de não ficção, como "A Zona do Desconforto" e "Como Ficar Sozinho" (Companhia das Letras).

Sempre haverá famílias ditas disfuncionais (não são todas?), envolvidas por grandes temas atuais -ambientalismo, crise financeira, estouro da bolha ponto.com, epidemia de antidepressivos e mal de Parkinson.

Haverá também aspectos prosaicos da vida americana que serão descritos nos ínfimos detalhes -velhinhos que colecionam cupons de desconto, vizinhos que trazem bandejas de cookies para socializar, adultos republicanos que jogam Playstation.

Você pode até não conseguir resumir exatamente o enredo dos livros, mas vai dormir e acordar pensando nos personagens. É gente como Patty Berglund, de "Liberdade", uma dona de casa tão boazinha que não consegue criticar ninguém. Essa mesma Patty é capaz de cortar os pneus do vizinho, republicano e cafona, e trai seu marido com o melhor amigo dele.

Franzen já declarou ser contra a literatura de experimentalismos. E é justamente esse estilo enganosamente simples -fácil de ler, mas difícil de reproduzir- que explica parte de seu enorme sucesso. E é viciante: prepare-se para passar a noite em claro, sugado pelos personagens.