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Mostra árabe com 32 filmes apresenta raridades inéditas

Exibida antes no MoMA, em NY, seleção tem foco na produção experimental ao longo de cinco décadas

Primavera Árabe aparece como tema de documentários; festival vai de amanhã até 22 de julho em São Paulo

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

As paredes das salas de cinema de São Paulo reverberam, a partir de amanhã, os sons garganteados do árabe.

Quer seja em gritos de "ululululululululululululai" ou em adocicados "habibi" (meu querido), esse idioma é a língua franca da 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema.

O festival, organizado pelo Instituto da Cultura Árabe, reúne 32 filmes. O foco desta edição está na produção experimental do mundo árabe, trazendo uma seleção exibida antes no MoMA, museu de arte moderna de Nova York.

É uma coletânea que vai dos anos 1960, manjedouro da vanguarda árabe, até filmes feitos na quentura das revoluções contemporâneas.

A seleção do festival é rara, em geral de filmes inéditos aqui. Boa parte deles voltará ao anonimato assim que as cópias forem devolvidas.

O incógnito é um lugar que esses filmes conhecem bem, habituados a percalços que vão da censura oficial ao desinteresse dos distribuidores.

"Mas eu não tenho certeza de que o mercado é um reflexo verdadeiro das aspirações e dos anseios das audiências", diz a libanesa Rasha Salti, curadora desta edição.

"Esse argumento supõe que exista apenas o que os donos de cinemas decidem que exista", afirma à Folha.

CICLO

A abrangência do festival, que reúne cinco décadas de produção, pode fazer parecer que há coesão ou um fio condutor entre as obras do mundo árabe, partindo dos anos 1960 até a atualidade.

Mas esse é um caminho com desvios. A relação de causa e efeito, de influência e influenciado, não existe, em muitos casos, nem ao menos dentro de um mesmo país.

"Não há ligação entre as gerações anteriores e as de hoje", diz o marroquino Ali Essafi, que trouxe "Procurado" (2011) e "Ouarzazate, o Filme" (2001) para a mostra.

Ele cita Ahmed Bouanani, de "6/12" (1986), que "fazia o melhor que tivemos de produção e roteiro". "Ninguém conhece o trabalho dele."

"O problema é que não transmitimos o que aconteceu antes. O Estado não faz esse trabalho de transmissão de patrimônio", diz Essafi.

A curadora Salti concorda. "Os filmes de Bouanani foram esquecidos, foram guardados nos arquivos. Ele quase foi esquecido também."

Os dialetos regionais do árabe estarão representados, durante a mostra, em obras que vão da Síria ao Marrocos, registrando variedades culturais do território que foi, século atrás, um império coeso.

O Brasil contribui com duas produções nacionais, agregando ao festival o sotaque deixados pelos imigrantes -é o caso de "Constantino" e de "Sobre Futebol e Barreiras".

Em comum, "são diretores que fizeram uma forte crítica social", diz Soraya Smaili, diretora cultural da mostra.

"Estrelas em Plena Luz do Dia" (1988), por exemplo, discute a sociedade patriarcal síria a partir de casamentos cancelados pelas noivas.

Entre os temas presentes nos filmes, a Primavera Árabe, que trouxe atenção ao mundo árabe conforme ditadores foram destronados na região, aparece apenas em documentários na mostra. A ficção ainda aguarda sua vez.

"Não tenho certeza do que podemos esperar", diz a curadora libanesa Salti. "Mas o que eu torço para ver é uma nova linguagem cinematográfica, menos autocensura."

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