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Crítica música erudita

Lançamento histórico traz primeiras gravações de Nelson Freire aos 12, tocando Beethoven e Chopin

Do ponto de vista musical, o mais valioso é a inclusão no álbum das faixas do primeiro LP de Nelson Freire, feito logo após o concurso

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Em 1957, durante a efervescência dos anos JK, foi realizado no Rio de Janeiro um concurso internacional de piano. Nelson Freire, então com 12 anos, foi o mais jovem entre os 47 candidatos.

Ele ficou em nono lugar, mas o fato de ter sido finalista fez do mineiro a sensação do evento. Na banca de jurados estava a pianista Guiomar Novaes (1894-1979), a quem Nelson devota admiração incondicional até hoje.

Sua prova final do concurso, com o primeiro movimento do "Concerto Imperador" de Beethoven (1770-1827), agora pode ser ouvida no CD "Ritos de Passagem", lançamento do selo Sanctus.

Especializada em registros históricos, a gravadora lançou anos atrás um álbum raro contendo gravações do próprio Villa-Lobos ao piano e violão. "Ritos de Passagem" mostra o mesmo cuidado, e traz encarte rico em informações com texto em português.

A gravação (amadora) da prova do concurso carrega a emoção do momento. Presente ao Theatro Municipal do Rio naquele dia, o presidente Juscelino Kubitschek ofereceu uma bolsa para o menino estudar no exterior. Do ponto de vista musical, entretanto, o mais valioso é a inclusão no álbum das faixas do primeiro LP de Nelson Freire, feito logo após o concurso com obras de Chopin (1810-49) apresentadas nas eliminatórias.

Esse "recital Chopin" está em boa qualidade de áudio e lança luz sobre sua fase de formação. O programa traz o "Noturno" n.7, a "Balada" n.4, o "Estudo" op.10 n.4, a "Valsa" n.14 (póstuma), a "Mazurka" op.33 n.2 e o "Scherzo" n.1.

Tomemos o "Noturno" op.27 n.1: se a mão esquerda ainda não faz da figuração um acontecimento independente -como na integral dos "Noturnos" lançada 53 anos mais tarde-, o som encorpado e o cantábile já permitem reconhecer o futuro artista.

A condução ainda era um tanto ansiosa, mas o acabamento das frases estava lá, assim como a equalização das linhas, o que não ocorre no "Estudo", talvez a interpretação mais imatura do CD.

Saber que ele estudou e decorou o complexo "Scherzo" n.1 em apenas duas semanas também revela muito sobre o seu potencial, e o controle do tempo faz da "Valsa" em mi menor um dos melhores momentos do trabalho.

Acima de tudo, porém, a escuta desse CD juvenil revela a submissão do intérprete às obras, algo que -cultivado com paciência e amor ao longo dos anos -haveria de fazer do som de Nelson Freire um raro testemunho da beleza possível.

Ritos de passagem: Nelson Freire 1957

ARTISTA Nelson Freire
GRAVADORA SanCtuS
QUANTO R$ 35 (em média)
AVALIAÇÃO ótimo

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