Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Barreto filma história de amor lésbico

Em "Flores Raras", Miranda Otto interpreta a poeta Elizabeth Bishop, e Gloria Pires vive a arquiteta Lota de Macedo Soares

Longa retrata romance de 15 anos vivido pelas duas intelectuais no Brasil antes do fim trágico da relação

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A PEDRO DO RIO (RJ)

O cenário é magnífico: uma casa projetada por Niemeyer, cercada por jardins de Burle Marx (1909-1994), na região serrana do Rio, num dia de sol. O ano é 1952, e há uma festa em curso.

A aniversariante, a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979), é saudada por personalidades como o governador Carlos Lacerda (1914-1977) e a arquiteta Lota de Macedo Soares (1910-1967), criadora do Aterro do Flamengo e dona da casa. Instada a discursar, diz:

"Um brinde à rocha que escora essa casa e a tudo que parece improvável, mas não impossível".

Improvável, mas não impossível: eis uma boa descrição para a história que se desenrola a partir dessa cena, que a Folha viu ser reproduzida durante uma visita às filmagens de "Flores Raras", o novo filme de Bruno Barreto.

É a história do romance de 15 anos entre Bishop e Soares, duas figuras de personalidades opostas que se apaixonaram e viveram juntas os melhores anos de suas vidas, tanto emocional quanto profissionalmente, antes de uma separação de contornos trágicos, com a poeta voltando ao alcoolismo (e aos EUA) e a arquiteta se matando.

"Demorei muito para descobrir o ângulo desse filme", diz o diretor, que achou o tom após ver Amy Irving, então sua mulher, encenando o solo "Um Porto para Elizabeth Bishop", de Marta Góes.

"Aí comecei a perceber a dinâmica das duas. A Bishop era a perdedora, a fraca, alcoólatra. A Lota era o oposto, poderosa, sabia o que queria, era uma vencedora. Mas a fraca sabia lidar com as perdas, e a forte, não. Isso acabou levando-a ao suicídio."

DE OLHO EM "AS HORAS"

O diretor esclarece que não faz "mais um filme sobre artistas torturados".

"Acho esse tipo de filme muito chato. Se eu for bem-sucedido, 'Flores Raras' terá a poesia e a complexidade de 'As Horas' [2002] e a emoção e a escala épica de 'Entre Dois Amores' [1985]. Será um filme com o qual todos possam se relacionar, não precisa ser gay ou mulher", diz.

Para viver suas protagonistas, Barreto escalou Gloria Pires (que faz Lota, e atua em inglês na maior parte do filme) e a australiana Miranda Otto (da trilogia "O Senhor dos Anéis", que faz Bishop).

"Lota era a mantenedora das coisas, era receptiva, generosa. Ela podia ser um trator em certas ocasiões, mas era uma mulher extremamente refinada", descreve Pires.

Já Otto, além de destacar a identificação com o jeito introvertido de sua personagem, ressalta a importância da temporada brasileira de Bishop. "Ela não tinha raízes, era uma pessoa que flutuava, e a vinda para o Brasil foi algo que lhe deu conforto pela primeira vez, não só por causa da Lota, mas pelo próprio país. Ela vinha de uma sociedade mais fria e chega a um lugar onde as pessoas são muito quentes, físicas."

No que tange à parte física do relacionamento, o diretor diz que não fez do homossexualismo "uma questão"; tampouco quis "ser pudico". Haverá uma cena de sexo que Pires descreve como "esteticamente refinada, nada apelativa". Será difícil filmá-la?

"Sempre é, com homem ou com mulher. Mas eu e a Miranda já criamos uma intimidade, está sendo ótimo contracenar com ela. Já fizemos cenas de beijo, de amasso."

Orçado em R$ 13 milhões e filmado em película, "Flores Raras" tentará vaga no Festival de Berlim de 2013.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.