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Bisneto de antigo dono do 'Grito' contesta leilão do quadro em NY

Brasileiro Rafael Cardoso exigiu reparação de norueguês que vendeu obra por US$ 120 milhões

Obra mais cara já arrematada, 'O Grito' era de Hugo Simon, que vendeu a peça ao fugir do nazismo na Europa

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

No dia do leilão da obra mais cara já arrematada na história da arte, uma das quatro versões de "O Grito", do expressionista norueguês Edvard Munch, por US$ 120 milhões (cerca de R$ 239 milhões), um crítico de arte brasileiro contestou a venda da Sotheby's em Nova York.

Rafael Cardoso, bisneto de Hugo Simon, judeu alemão que vendeu o quadro em 1937, se opôs ao leilão, alegando que seu bisavô fora obrigado a se desfazer da obra durante a ascensão do nazismo.

"Embora reconheçamos que a venda do quadro por meu bisavô transcorreu dentro dos parâmetros legais estabelecidos, não há dúvida de que isso ocorreu em situação de perseguição e extrema necessidade", disse Cardoso, que vive no Rio, à Folha.

"Nossa objeção ao modo como o leilão se processou é ética", acrescentou. "Nesses casos, o procedimento considerado justo é de chegar a um acordo entre as partes."

Leiloado há dois meses, "O Grito" pertencia ao magnata naval norueguês Petter Olsen, que herdou a obra de seu pai, Thomas Olsen. A obra estava na família desde 1937, quando foi comprada numa galeria de Estocolmo onde Simon, bisavô de Cardoso, havia deixado a peça em consignação naquele ano.

Cardoso reconhece que sua família não tinha direitos sobre o quadro e esclarece que não pediu dinheiro a Petter Olsen no ato da venda. Mas o norueguês procurou a família no Rio oferecendo cerca de R$ 497 mil a uma instituição de caridade "em troca de concordância com a venda".

"Consideramos a oferta dele indigna e declinamos", disse Cardoso. "Nosso desejo era que parte do resultado do leilão fosse dedicado a homenagear Hugo Simon e seu papel fundamental na história da obra 'O Grito' por meio do estabelecimento de um fundo de pesquisa e ensino em instituição reconhecida na área de história da arte."

De seu escritório em Oslo, Olsen confirmou à Folha que ofereceu dinheiro aos Cardoso e que eles recusaram a soma, acrescentando que os descendentes de Simon reconhecem que não tinham qualquer direito de propriedade sobre a obra leiloada.

No catálogo da Sotheby's, casa de leilões que vendeu o quadro em maio, consta que Hugo Simon comprou "O Grito" de seu primeiro proprietário em Paris, em 1926. Ele depois deixou a obra em consignação para venda numa galeria de Zurique em 1936 e, mais tarde, numa galeria de Estocolmo, onde foi vendida a Thomas Olsen em 1937.

Em nota à Folha, a Sotheby's diz reconhecer "o papel importante que Hugo Simon teve na história de 'O Grito'", mas "sabendo que o quadro sempre esteve fora da zona ocupada pelo nazismo, não havia obstáculo à venda". Ainda segundo o texto, os herdeiros de Simon negam ter direitos sobre a peça.

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