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Crítica drama

Diretor e atores potencializam peça instigante

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Um drama despido de drama. "Isso te interessa?", última criação da Cia. Brasileira de Teatro, é exemplar de como o teatro pode inventar novas formas para traduzir as questões humanas em sintonia com o tempo presente.

A autora, Noelle Renaude, é uma referência na atual dramaturgia francesa. Ela flagra com contundência, neste texto de 2009 ("Bon, Saint-cloud" em francês), a família de hoje, sem recorrer à psicologia, à ideologia ou a qualquer discurso explicativo.

Rompe-se a fluência dramática do realismo com um procedimento simples, de igualar as rubricas às partes faladas, fazendo com que tudo que é dito seja sistematicamente antecedido pela explicitação, por quem enuncia as falas, daquele que as diz e de como as está dizendo,

Os personagens, definidos por Renaude como "dois homens e duas mulheres", serão desde cachorros até um pai e uma mãe, ou um filho e uma filha que se desdobrarão em novos filhos, mães e pais, num leque temporal de três gerações que se apresentam em menos de uma hora.

O diretor Márcio Abreu, um dos mais criativos do país, e os talentosíssimos atores e atrizes da companhia, potencializam na encenação o instigante material do qual eles partem.

DESNUDAMENTO

Os intérpretes estão, sempre, completamente nus, sem que essa circunstância perturbe a eficácia de seus desempenhos. Ao contrário, acompanhando o desnudamento do texto de qualquer dramaticidade e ilusionismo, sua nudez é uma feliz redundância que enfatiza o caráter universal do que é narrado.

Giovana Soar, Nadja Naíra, Ranieri Gonzáles e Rodrigo Bolzan têm em comum a excelência com que constituem uma presença arrebatadora, sem exatamente representar papeis, mas se confundindo com eles como narradores colados às suas próprias ações.

O encenador colabora, sutil, com estranhas inclinações de luminárias e lustres em momentos precisos, ou servindo-se de sensível iluminação e de cenário enxuto para esvaziar a cena de qualquer excesso e deixar à mostra, escancarada, a carcaça do acontecimento "família".

Como uma série de repetições, que renovam a cada vez uma mesma estrutura de neuroses atávicas e ancestrais, o espetáculo é quase o documentário sobre uma família anônima, contemporânea a todos nós.

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QUANDO qui. e sex., às 21h30, sáb., às 20h, dom., às 17h
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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