Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica música erudita

Osesp casa vanguarda e heavy metal

Sob regência segura de Marin Alsop, orquestra recebe o cello-guitarra de Johannes Moser

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Parecia que o "Concerto para Violoncelo Elétrico e Orquestra" do compositor mexicano Enrico Chapela, 38, ia começar de novo: o público da Sala São Paulo aplaudia em ondas indecisas, que chegavam quase a parar antes de engatar novo ciclo.

De fato, a obra havia iniciado com os músicos esfregando as mãos, batendo os pés e aplaudindo. Feita para o violoncelista Johannes Moser, é uma encomenda de Osesp, Sinfônica de Birmingham e Filarmônica de Los Angeles.

Moser toca um cello-guitarra sem caixa de ressonância e plugado a computador, amplificador e pedaleira. O primeiro movimento é o que melhor desenvolve a linguagem orquestral, com ecos espectrais e referências à vanguarda dos anos 1950-60.

A partir da cadência, tudo fica mais lento, e a volubilidade dos materiais permite o advento de um trecho cool jazz -que remete aos anos 1950- antes de desembocar em heavy metal dos anos 1970, geração do compositor.

O "incômodo semântico" sentido por alguns músicos à medida que o som do cello vanguardista se transformava literalmente em guitarra de rock é legítimo, mas desconsidera que -também desde os anos 1950- tudo pode ser transformado em citação.

Humor é o páthos da peça, e a referência a magnetares e pulsares pode ser vista também como uma piada: afinal, Stockhausen (1928-2007) foi contemporâneo de Miles Davis (1926-91), e o Ircam (Instituto de Pesquisa em Acústica e Música), do Iron Maiden.

O humor de Chapela é latino, mais para Gilberto Mendes do que para John Cage (1912-92). Sua música capricha na elaboração e ri de poéticas pretensiosas; aceita filiar-se a um mundo que cruza vanguarda e heavy metal.

Marin Alsop regeu com energia e segurança incomuns um programa bastante virtuosístico, que abriu com "Sensemayá" (1938), do mexicano Silvestre Revueltas (1899-1940), e fechou com o balé "O Filho Pródigo" (1929), de Prokofiev (1891-1953).

A obra de Revueltas merece permanecer no repertório da orquestra; já a de Prokofiev -apesar da boa performance- precisa amadurecer rápido, já que fará parte do segundo CD dos seis previstos para completar o ciclo sinfônico do compositor russo.

OSESP COM MARIN ALSOP E JOHANNES MOSER
QUANDO hoje, às 16h30, na Sala SP; amanhã, às 17h, no aud. Claudio Santoro (C. do Jordão)
ONDE Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 0/xx/11/3223-3966); aud. Claudio Santoro (av. Dr. Luís Arrobas Martins, 1.800, tel. 0/xx/12/3662-2334)
QUANTO a partir de R$ 40
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO bom

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.