Coleção traz livro em que Alan Pauls questiona dor latina

Com seu passado recente marcado por regimes ditatoriais sufocantes, a América Latina parece manter uma relação próxima com a dor.

A incapacidade de superar antigas feridas é a crítica contida em "História do Pranto", livro do escritor argentino Alan Pauls e 16º volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas no próximo domin-go, 22/7.

Para questionar a origem dessa mágoa, Pauls acompanha em seu romance a tragédia ideológica e política dos argentinos durante os anos 1970 por meio das lembranças de um menino sem nome.

Jovem de imaginação fértil, filho de pais divorciados e membro da classe média de Buenos Aires, o protagonista se vê aprisionado entre suas emoções e a conturbada situação política de seu país.

"Nossa cultura é chorona. O tango, o futebol, os fracassos épicos. O choro 'made in Argentina' é título de nobreza e método de blindagem. Só aprendemos a pedir compaixão e a esperar que esse choro passe", provocou, sem comiserações, o autor certa vez em entrevista à Folha.

Em "História do Pranto", Pauls retoma as experimentações estéticas de seu romance mais conhecido, "O Passado", cujo enredo foi levado aos cinemas por Hector Babenco, em 2007.

Nascido em 1959, Alan Pauls é um representante da geração posterior à que sobreviveu à ditadura argentina (1976-1983), em que mais de 30 mil pessoas desapareceriam para sempre.

A trilogia do autor, que se completa com "História do Cabelo" (2010) e o ainda em produção "História do Dinheiro", faz parte de uma safra de livros recentes que tenta revisar o período militar no país e propor uma reflexão crítica menos influenciada pela dor.