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Os eleitos

Escolha, pela revista britânica "Granta", dos 20 "melhores jovens escritores brasileiros" reaviva debate sobre critérios e marcas para definir gerações literárias

Adriano Vizoni - 5.jul.12/Folhapress
Treze dos 20 autores selecionados, durante coquetel da "Granta" na Flip, em Paraty
Treze dos 20 autores selecionados, durante coquetel da "Granta" na Flip, em Paraty

DE SÃO PAULO

Antes e depois da divulgação dos 20 "melhores jovens escritores brasileiros" da revista "Granta", autores selecionados e preteridos evocaram um poemeto de Francisco Alvim, chamado "Luta literária": "Eu é que presto".

Uma das principais revistas literárias do mundo, que ajudou a impulsionar a carreira de nomes como V.S. Naipaul, Ian McEwan e Salman Rushdie, a publicação britânica acaba de lançar uma edição brasileira reunindo 20 escritores com menos de 40 anos, selecionados por um júri de sete especialistas.

Os textos (contos ou trechos de romances), eleitos entre os de 247 inscritos, serão publicados pela "Granta" em inglês, espanhol e chinês.

Como em seleções semelhantes, esta levanta velhas questões. Serão esses os melhores? O que os aproxima, além do recorte cronológico?

Parece impossível divisar uma convergência estética ou temática entre os 20.

Mas há traços em comum. Um deles é o estudo da literatura, como exercício ou reflexão acadêmica: 14 deles fizeram oficinas literárias ou estudam literatura na universidade. A dedicação ao ofício distingue essa geração das que a precederam, cheias de autores funcionários públicos ou profissionais liberais.

"Não sei se oficinas são o melhor modelo, mas me parece evidente que o escritor precisa de formação, que se trata de uma profissão como tantas outras. É uma pena que aqui o escritor seja sempre concebido como autodidata", diz o paulistano Julián Fuks, 30, ex-aluno de oficina.

O escritor Luiz Antonio Assis Brasil, que em 28 anos já deu aulas a cerca de 600 alunos, principalmente em Porto Alegre (entre os quais quatro selecionados da "Granta", Carol Bensimon, Daniel Galera, Luisa Geisler e Michel Laub), vê como marca predominante nesta geração a escrita em primeira pessoa.

"É quase hegemônico de uns 15 anos para cá. É uma literatura muito confessional."

Outro aspecto é a presença maciça de autores-editores, seja em selos artesanais ou em grandes casas (caso de Leandro Sarmatz, da Companhia das Letras, ou Emilio Fraia e Miguel del Castillo, da Cosac Naify).

A exemplo de Daniel Galera, 33, que em 2001 lançou seu primeiro romance, "Dentes Guardados", pela própria editora, a Livros do Mal, Antonio Xerxenesky, 29, estreou por uma editora aberta com um grupo de amigos.

"Isso foi em 2007, quando o Rio Grande do Sul não tinha editoras pequenas interessadas em publicar jovens. Conseguimos, na Não Editora, fazer livros de desconhecidos, como eu, aparecerem nas estantes e na mídia."

A lista mostra o monopólio de autores do Centro-Sul do país (18 são de SP, RS e RJ, dois são Nordeste). Cristhiano Aguiar, paraibano radicado no Recife, disse que a disparidade o incomoda. "Embora a literatura não seja definida pelo lugar biográfico do escritor, garanto que há muita produção instigante em outras regiões."

Há um francês (o paulistano nascido em Paris Chico Mattoso), uma portuguesa (a carioca nascida em Lisboa Tatiana Salem-Levy) e quatro "latino-americanos": Fuks (filho de argentinos), Carola Saavedra (chilena), Javier Arancibia Contreras (filho de chilenos) e Miguel del Castillo (pai uruguaio). Dois, Fuks e Castillo, levam a herança cultural-familiar a seus textos.

COSMOPOLITA E PRODUTO

Críticos divergem quanto à validade da experiência.

Para Italo Moriconi, professor da Uerj e um dos sete jurados do concurso, essa geração da literatura brasileira "vive um momento cosmopolita" e o escritor nacional "se abre para o mundo".

Alcir Pécora, da Unicamp, é mais cético. "'Jovens escritores' não é categoria literária, mas de mercado: algo símile a se apresentar uma nova linha de um produto em série e se pretender que ela seja uma revolução no conceito do produto de sempre."

Antologista veterano (organizou as das gerações 90 e 00), Nelson de Oliveira diz que a iniciativa da Granta precisa ser repetida. "Precisamos de mais antologias. Os norte-americanos, que entendem realmente de mercado editorial, lançam numa década dúzias de antologias. "

Para alguns escolhidos, como Michel Laub, estar no grupo não é, em si, nenhuma garantia. "Sem nenhum demérito para a 'Granta', tem uns 30 escritores que passaram pela revista e nós nunca mais ouvimos falar deles. "

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