Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Irmãos Campana fundem barroco e rococó em Paris

Designers mostram em setembro nova coleção no museu Les Arts Décoratifs

Dupla de brasileiros recebe prêmio de conglomerado de luxo francês e fará primeira individual parisiense

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Na "terra do luxo", os irmãos designers Fernando e Humberto Campana vão tentar reinventar a noção de chique juntando o barroco mineiro ao rococó francês.

Essa fusão -que cria móveis palacianos a partir de jacarés de plástico, fragmentos de bonecos e até escovas de dentes fundidos em bronze e depois pintados de ouro- é o mote da coleção que a dupla mostra numa individual marcada para setembro no Les Arts Décoratifs, em Paris.

"Quero criar esse cruzamento entre os movimentos, tentando entender o que seria o barroco hoje", diz Humberto Campana à Folha. "Fui refazendo e fundindo novas peças para agregar esses ornamentos, ter o passado e o presente num diálogo."

Não é a primeira vez que os Campana, designers que vendem sua obra como símbolo máximo de brasilidade, visitam o barroco mineiro como referência, mas o período agora é revisto à luz dos frisos, excessos e ornamentos do rococó que decoraram palácios da monarquia francesa.

Isso porque o comitê Colbert, um conglomerado francês que reúne 75 marcas, entre elas Louis Vuitton, Hermès e Chanel, está premiando os Campana por seguirem no Brasil aquilo que ele entende por luxo.

"Fernando e Humberto são exemplos da cultura brasileira em que podemos reconhecer nossos ideais", diz Elisabeth Ponsolles des Portes, diretora do grupo. "Eles usam o artesanato tradicional e a carpintaria para criar modernidade e um discurso poético em torno desses objetos."

Um sofá da nova coleção dos Campana combina um estofado de pele com uma estrutura dourada composta de pequenos jacarés e répteis dourados, que se entrelaçam para sustentar o móvel.

Esse é o tipo de excesso característico da obra dos Campana, motivo de críticas à dupla, que sempre se opôs à escola construtiva do design no país, herança da Bauhaus e do movimento concretista.

"Quero propor outra coisa, fazer tudo com a mão", diz Humberto. "Em vez do industrial, o 'slow design'. Acho muito careta, limitado e castrador ficar restrito só a uma coisa. Esse século é transgênico, graças a Deus. Quero fazer poesia e coisas bonitas."

Mas os Campana reconhecem que essa poesia, quando transformada em objetos, nem sempre agrada, sentindo que muitos ainda "duvidam" de sua obra no país.

Enquanto isso, Veuve Clicquot, Lacoste e outras já firmaram parcerias com os irmãos para abocanhar essa brasilidade para exportação. E a Paris do rococó se rende ao neobarroco dos Campana.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.