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Folhateen

Causa Ganha

O criminalista Alberto Toron fala sobre as leis que devem reger a carreira de um bom advogado

MILLOS KAISER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Antes de começar o papo, Alberto Toron, 53, pede um minuto para ir escovar os dentes. "É que almocei um quibe e uma coxinha hoje. O almoço de todo advogado bem-sucedido", brinca.

Caio Felga, 20, Patrícia Curci, 21, Júlia Araújo, 18, e Manoela Pratti, 19, dão risada.

Os quatro, que recém entraram na faculdade de direito, participaram da série "Choque de Realidade", em que o "Folhateen" leva estudantes para esmiuçarem detalhes de várias profissões com expoentes das respectivas áreas.

Toron, que tem 30 anos de carreira, é um dos advogados criminalistas mais conhecidos do Brasil. Auxiliou, por exemplo, o Ministério Público na acusação contra Suzane von Richthofen, condenada pelo assassinato dos pais, em outubro de 2002.

"E por que direito criminal?", foi a primeira pergunta dos jovens. De família judia, filho de um imigrante grego com uma brasileira, Toron cresceu no bairro do Bom Retiro, em São Paulo.

"Da minha sacada, via muito policial batendo no povo. A violência, sobretudo a praticada por agentes do Estado, me marcou para sempre. Por isso escolhi a área criminal", revela.

Sua graduação foi feita na PUC-SP. Ele hoje disputa a presidência da OAB-SP.

CULPADOS E INOCENTES

Em seu quinto e último ano de faculdade, Toron começou a estagiar no escritório de Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça e também advogado criminalista.

Foi quando começaram as adequações a que todo estudante de direito tem de passar já no começo da carreira.

"Eu tinha um puta cabelão, uma barba enorme. Tive que cortar tudo e ficar com o visual caretinha de advogado."

Apesar do terno e da gravata, direito nada tem a ver com glamour. Prova disso são os casos escabrosos que um advogado tem de defender.

Toron gosta de lembrar de um deles em especial, em que atuou como defensor público de um pai que supostamente havia estuprado e jogado a filha de apenas sete anos pela janela do 18º andar. Enojado, Toron tinha dificuldade até em conversar com o homem.

O suspeito passou dois anos e meio preso, até que, conversando com uma testemunha, o advogado teve uma revelação: o homem era inocente. Convicto disso, convenceu o júri com sua tese. O pai foi absolvido.

"Foi quando aprendi que o papel do advogado é defender e acreditar na inocência de seu cliente. Não nos cabe acusar nem julgar. Para que se cumpra o devido processo legal, temos que defender um cliente até se esgotarem as possibilidades."

"Muita gente diz que advogado é tudo malandro. O que acha disso?", provoca Júlia.

"Fiz uma pesquisa que mostrou que advogados são mais detestados do que políticos. Realmente, há muitos profissionais que mentem para seus clientes. Cabe à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) puni-los", responde.

E ele confessa: já livrou gente culpada de ir em cana.

"Processualmente, se é possível defender a pessoa, é dever do advogado fazê-lo."

Para ele, fatores ideológicos podem influenciar a conduta de um advogado. "Mas até certo limite", ressalta. "Não vão matar uma testemunha para provar seu ponto de vista, pelo amor de Deus", encerra, rindo.

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