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Maestro Yuri Azevedo, 20, segue caminho e cabelos de Dudamel

Premiado anteontem, baiano iniciante não aprova a comparação com o regente venezuelano

Estudante recebe o maior prêmio erudito do Festival de Inverno e ganha bolsa para os Estados Unidos

IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO

Ele tem a cara, os cabelos desgrenhados e o sorriso de Gustavo Dudamel. Tem a mesma profissão. E até seu apelido é inspirado no festejado maestro venezuelano. Mas Yuri Azevedo, que está se iniciando agora nas artes da regência, fecha a cara quando ouve a comparação.

"Prefiro quando dizem que pareço o Caetano da vanguarda", diz o rapaz de 20 anos, que anteontem foi premiado com o prêmio Eleazar de Carvalho, distinção máxima do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.

Afinal, "Caetano também é baiano", completa "Yurimel", como lhe chamam seus amigos quando querem provocá-lo.

"O prêmio de Yuri é importante porque o festival nunca o havia concedido a um estudante de regência", disse Arthur Nestrovski, diretor artístico do evento e da Orquestra Sinfônica do Estado de SP.

Garantiu ao rapaz uma estadia de nove meses com bolsa de US$ 1.400 (R$ 2.830) em um instituto americano.

"Yuri é o próximo grande maestro brasileiro", afirmou Nestrovski. "Ele rege sorrindo e com prazer. Quando dissemos para ele conduzir a peça 'Batuque' na premiação, Yuri nem quis olhar a partitura. Sabia decorado."

ANGÚSTIA

Com cerca de dez peças eruditas já gravadas em sua jovem mente, Yurimel (ops...) quer muito mais: "Prefiro decorar. No palco, ler a partitura, que traz inscrições como 'alerta nessa passagem', me deixa angustiado."

Ele cita seus favoritos: Beethoven, Bach, Mozart, Debussy e Heitor Villa-Lobos.

De família simples, o prodígio baiano ajuda as contas da casa com os R$ 1.500 que recebe de bolsa em Salvador. Nada de roupas de marca ou de carro por enquanto: "Reservo para comprar partituras. São caras".

Originário de Cabula, bairro de classe média de Salvador, filho de um técnico de informática e de uma dona de casa, tinha 16 anos, uma bateria e queria ser sambista quando conheceu o Neojiba.

É um projeto para jovens que visa a formação de músicos eruditos e funciona no Teatro Castro Alves (seu irmão menor, Caio, pratica violino no mesmo local).

O Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), aliás, se fundamenta no programa social venezuelano "El Sistema", que funciona desde 1975 e revelou o maestro Gustavo Dudamel, 31, hoje diretor da Filarmônica de Los Angeles.

Apesar de preferir música clássica a axé, barroca a pagode, e romântica (do século 19) a sertanejo, Yuri admite ouvir um rock às vezes. "Gosto de Radiohead e de bandas dos anos 1980, mais leves."

Mas como um maestro erudito reage ao ouvir um pá-pum básico como Rolling Stones? Seria uma música simples demais?

"É verdade, acontece. São sempre os mesmo acordes.... Isso me deixa um pouquinho angustiado."

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