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Análise

Forte de Galante era a intuição para bons e maus negócios

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A.P. Galante sempre dava respostas rápidas -embora nem sempre certas. Quando Carlos Reichenbach lhe sugeriu fazerem um filme chamado "A Ilha dos Prazeres", Galante respondeu de bate-pronto: "A Ilha dos Prazeres Proibidos. Vamos filmar".

Com Alfredo Palacios formou uma dupla quase ideal. Além de bacharel em direito, Palacios tinha sido o braço direito de Marinho Audrá.

Galante começara por baixo, como maquinista. Ao se associarem, no final dos anos 1960, Palacios propôs que ele entraria com a série "Vigilante Rodoviário" e Galante com "Trilogia do Terror". Galante recusou, alegando que uma produção recente, como "Trilogia", devia valer mais que uma velha série de TV.

Esse costumava ser considerado "o único mau negócio" de Galante. "Trilogia" rendeu pouco, enquanto o "Vigilante" circulou por cinemas do interior nos anos 1970 com bons resultados.

À parte esse episódio, todos entendiam que Palacios era a parte intelectual, mas os negócios vinham de Galante, que tinha uma intuição rara.

Sabia cercar-se de diretores de prestígio, como Khouri e Reichenbach, e, com a mesma desenvoltura, patrocinar um abacaxi como "As Cangaceiras Eróticas".

Participou da melhor leva de filmes iconoclastas paulistas ("A Mulher de Todos", de Sganzerla, e "O Pornógrafo", de João Callegaro), deu a primeira chance em longa a Alfredo Sternheim ("Paixão na Praia"), entre outros.

A produção paulista, ignorada pela Embrafilme, baseava-se, na época, na associação com os exibidores, forçados a cumprir uma quota de dias de filmes brasileiros.

Para não perder a viagem, financiavam os filmes e ficavam com 50% da produção.

Era sua força e sua fraqueza: força porque a produção tinha continuidade e os filmes, exibição garantida. Fraqueza porque os exibidores tinham visão de curto prazo: preferiam investir no que tinha retorno garantido (apelo erótico, títulos escandalosos) em lugar da diversidade de gêneros, que dera ótimos resultados até os anos 1970.

FLEXIBILIDADE

Após 1977, quando se desfez a parceria com Palacios, Galante demonstrou a mesma flexibilidade. Seu negócio eram os negócios.

Assim, alugou o estúdio que havia construído em Santana para a Rede Globo. Paralelamente, seguia com suas produções, até que a entrada em cena do pornô veio inviabilizar o trabalho dos velhos produtores, como ele, Augusto Cervantes e outros.

Nos anos 1990, tenta um retorno, mas os velhos métodos não se adaptam bem aos novos tempos: a tentativa de um filme com a dançarina Carla Perez dá em "Cinderela Baiana", um completo "flop", e põe fim à carreira de Galante como produtor.

Talvez não seja exagerado dizer: é quando, também, começa a se tornar personagem lendário do cinema brasileiro.

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