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Alinne Moraes vira feia em seu 1º Nelson Rodrigues

Ruína estética é forma de punição em "Doroteia", estreia da atriz global no universo rodriguiano

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Doroteia" retrata o processo de apodrecimento voluntário de uma mulher.

De tão linda, a personagem que dá nome à peça escrita por Nelson Rodrigues no fim dos anos 1940, cuja estreia aconteceria ontem, chega a admitir a possibilidade de ser amante de si mesma. Pouco depois, torna-se repugnante.

"Rumina tua boca torta, e tua vista de sangue... Esconde teu rosto de bicho debaixo de qualquer coisa", dizem-lhe, depois que ela, por opção, contrai chagas.

Alinne Moraes vive a metamorfose em cena. Conhecida do grande público por papeis como a da paraplégica Luciana, da novela "Viver a Vida", da Rede Globo, a bela atriz debuta no universo rodriguiano com esta personagem que abandona a prostituição por se culpar pela morte do filho, e em busca da salvação almeja liquidar com seus atributos físicos.

Moraes se identifica com o papel escrito para Eleonor Bruno, atriz com quem Nelson Rodrigues manteve um romance e que protagonizou a peça em sua primeira montagem dirigida por Zbigniew Ziembinski, em 1950.

"A gente tenta se moldar para ser aceita. Doroteia se esforça para se ajustar aos padrões da sociedade. Para ser aceita, quer desaparecer, ser como as tias", diz ela.

A atriz dispensa máscaras, maquiagem ou qualquer artifício para retratar a transformação. "A beleza e a feiura se revelam de dentro para fora", acredita. A deformidade surge através de um tratamento facial e corporal. "Mas tem gente que acha que eu coloco prótese", conta.

Para o diretor da montagem, João Fonseca, a protagonista busca a feiura como espécie de punição. Ele acredita que por meio de "Doroteia" Nelson Rodrigues faz uma crítica ao machismo. "Nesta peça ele diz que para uma mulher ser séria ela deve renegar o prazer, a beleza e a felicidade", resume.

Doroteia busca refúgio na casa de suas três primas viúvas, composta apenas por uma sala. "Nelson chegou a admitir que por ser tão aberta e ter tantas possibilidades, esta peça derruba qualquer diretor. 'Doroteia' é surrealista. Um texto meio único dentro da dramaturgia do autor", define Fonseca.

O encenador selecionou um elenco masculino para viver as primas da protagonista. Desta forma, ressalta não apenas o tom farsesco e absurdo da obra, mas sobretudo suas tintas grotescas. "Neste conto de fadas pervertido, as tias parecem bruxas."

O atores Gilberto Gawronski, Alexandre Pinheiro e Paulo Verlings dão forma à trinca que de tanto renegar a feminilidade torna-se monstruosa.

DOROTEIA
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 19h; até 14/10
ONDE Teatro Raul Cortez - Fecomércio (r. Dr. Plínio Barreto, 285; tel. 0/xx/11/3254-1631)
QUANTO de R$ 60 a R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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