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Pas de Deux

Como é a vida do jovem casal brasileiro membro da companhia de balé russa Bolshoi

MILLOS KAISER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Vira e mexe, Faustão fala que uma dançarina de seu programa de TV "foi do Bolshoi". Difícil ser verdade.

Até hoje, apenas quatro brasileiros passaram pela tradicional companhia de balé russa, fundada em 1776.

Os mais recentes foram Erick Swolkin e Bruna Gaglione, ambos com 21 anos, membros desde junho do ano passado.

"Em 2010, pela primeira vez, eles abriram testes para jovens de fora do país. Mandamos alguns vídeos e eles nos chamaram", lembra Bruna, que neste mês veio passar férias em Joinvile (SC).

Foi assim que ela e Erick se juntaram à também brasileira Mariana Gomes, além de uma coreana, uma ucraniana e uma americana, os únicos estrangeiros do grupo, composto por 363 bailarinos.

Os dois foram os primeiros bailarinos estrangeiros a serem convidados para a sede do Bolshoi, em Moscou, na Rússia, sem terem de passar por estágio.

Erick nasceu em São Paulo, mas se mudou ainda criança para a zona rural de Joinville. Na escola, assistiu a uma palestra da filial do Bolshoi que há na cidade (a única fora da Rússia) e resolveu vestir o colã.

Bruna é de Caxias, a 360 km de São Luís (MA). Aos 12, incentivada por uma professora, ela ingressou no Bolshoi joinvilense. O pai e a mãe largaram tudo para acompanhar a filha.

Em Moscou, eles dividem uma quitinete de 30m². Valor do aluguel, o equivalente a R$ 4 mil. Salário de cada um, R$ 1 mil de piso, mais extras por espetáculo dançado. Para ajudar a fechar a conta, um "paitrocínio" é requisitado todo mês.

VIDA DURA

A fama de ser a escola de balé mais rigorosa do mundo não nasceu à toa. Entre aulas, ensaios e apresentações, chega-se a dançar 13 horas por dia, de terça a domingo.

Segunda-feira é quando dá para ir ao supermercado, arrumar a casa e... ir aos ensaios novamente. Desta vez, como espectadores.

"Se algo acontecer com um dos dançarinos, você tem de estar preparado para entrar", explica Erick, vestindo uma camiseta da KGB, o serviço secreto da antiga União Soviética.

"O desgaste é enorme. Não dá tempo de se recuperar das lesões. É tão difícil conseguir um papel que, quando você consegue, você não quer abrir mão", completa Bruna, que torceu o tornozelo uma vez.

E ainda tem a concorrência entre bailarinos. "Tem que chegar respeitando. Falar somente com quem fala com você", ele diz.

Integração, só com o empurrãozinho da vodca. "Quando chegam novos bailarinos ou vamos estrear um espetáculo, o teatro oferece uma festa. As pessoas bebem e quebram o gelo, mas, no dia seguinte, nem te olham", se queixa Bruna.

Hoje, os dois até arranham um pouco de russo. Mas por pura necessidade.

"Temos um professor que sabe inglês, mas ele se nega porque acha que temos de aprender a falar russo", diz Bruna. Ele chama Erick de Romário. "Perguntei o porquê um dia. Ele explicou que é porque não sou um Ronaldinho ainda."

Nem tudo, porém, são agruras. O casal se surpreendeu com o status que o balé tem na Rússia.

"Ver um espetáculo é uma atividade rotineira. Vai gente de todas as idades e o teatro está sempre lotado", diz ela.

O plano, eles revelam, é se aposentar no Bolshoi. Faltam apenas 19 anos.

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