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Editora Boitempo é acusada de cometer plágio em tradução Trechos reunidos por Denise Bottmann flagram coincidências; editora diz "estar averiguando" o caso Em nota, casa afirma que interromperá a distribuição dos livros sob suspeita até esclarecer a acusação MORRIS KACHANIDE SÃO PAULO Uma denúncia envolvendo pelo menos dois casos de plágio de tradução está agitando o mercado editorial. Os livros em questão são "Considerações sobre o Marxismo Ocidental", de Perry Anderson, e "Lachrimae Rerum", de Slavoj Zizek, ambos lançados pela Boitempo, em 2004 e 2009, respectivamente. A tradutora Denise Bottmann diz ter descoberto que os dois livros se utilizam de traduções já publicadas. No caso de Anderson, teria havido cópia da tradução feita por ela mesma e lançada em 1984 pela editora Brasiliense. Já na obra de Zizek, a Boitempo teria se aproveitado de tradução da editora portuguesa Orfeu Negro (2008). Nos dois livros, os textos são praticamente os mesmos. Há apenas mudanças sutis, como a troca do verbo "argumentar" por "afirmar" ou "em que" no lugar de "onde". Bottmann pediu que quatro colegas traduzissem um mesmo trecho da obra de Zizek e publicou o resultado em seu blog para ilustrar como as diferenças são mais substanciais quando o trabalho é realizado por outra pessoa. "Duas traduções nunca são iguais", diz Bottmann, tradutora de mais de cem obras para editoras como Cosac Naify e Companhia das Letras. Para ela, com boa vontade poderia se dizer que o livro da Boitempo consiste em uma revisão de sua tradução. "O problema é que, mesmo assim, ela não foi creditada devidamente", aponta. A tradução da Boitempo é assinada por Isa Tavares, responsável por outras quatro obras da Boitempo. Fontes ligadas à editora disseram que Tavares é mãe de Ivana Jinkings, dona da Boitempo. A publisher negou a informação em e-mail ao jornal. Quem assina o prefácio de "Considerações..." é o sociólogo Emir Sader. Curiosamente, foi ele quem coordenou a revisão técnica da tradução de Bottmann na Brasiliense. Max Welcman, editor da Brasiliense, afirma que não há nenhum documento autorizando o uso da tradução. Apesar disso, na página de créditos do livro da Boitempo consta menção de copyright da edição da Brasiliense. "Uma editora citando a outra nos créditos é a coisa mais estranha do mundo. Não faz sentido", diz Welcman. Criada em 1995, a Boitempo já ganhou vários prêmios Jabuti e se notabilizou pelo lançamento de obras ensaísticas sobre política, economia e história, tendo como eixo o pensamento de esquerda. OUTRO LADO Procurada pela Folha, Ivana Jinkings não quis dar entrevista e, em e-mail, negou ser filha de Isa Tavares. Enviou uma nota, na qual afirma que a editora "já está averiguando os problemas apontados nas duas obras e se responsabiliza por tomar as providências necessárias, caso [eles] sejam confirmados". Acrescenta que "enquanto não forem esclarecidos os pontos, a editora interromperá a distribuição dos títulos; se confirmadas as informações, serão compensados todos os profissionais envolvidos". Isa Tavares não foi localizada. Até o fechamento desta edição, os livros apareciam como disponíveis no catálogo da editora. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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