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Análise ensaios

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Versátil, Gore Vidal passa à história como bom ensaísta

Premiado, escritor se via como sucessor de Edmund Wilson

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

Gore Vidal (1935-2012) foi escritor, dramaturgo, roteirista de cinema, político e jornalista, mas deve passar para a histórica como ensaísta.

É a parte menos perecível de sua obra, segundo a crítica americana.

Sua obsessão era interpretar o império americano, principalmente numa época em que a ideia de nação caminhava para o ofuscamento, de acordo com o escritor.

Não foi à toa que Vidal ganhou o National Book Awards, um dos principais prêmios norte-americanos, por "United States Essays 1952-1992", uma coletânea de 1.300 páginas e 140 textos jamais editada no Brasil.

A Segunda Guerra Mundial, da qual participara no Pacífico Sul, dera a Vidal o tema de seu primeiro romance ("Williwaw", 1946) e a chave para a sua interpretação dos Estados Unidos.

Em 2006, no ensaio "American Empire", ele sintetizou o que achava dos EUA: "Truman e amigos aprenderam e nunca esqueceram uma importante lição: é por meio da guerra e da militarização que nos tornamos prósperos com pleno emprego".

Harry Truman (1884-1972) foi presidente logo após a Segunda Guerra (1945-1953) e forjou a Guerra Fria -a divisão do mundo entre dois impérios: os EUA (capitalista) e a União Soviética (comunista)-, impulsionada por gastos militares crescentes.

Ele achava que Franklin Roosevelt (1882-1945), presidente entre 1933 e 1945, tinha provocado os japoneses a atacar Pearl Harbor com o objetivo de criar uma guerra e impulsionar a economia, como diz no documentário "Why We Fight" (Por que Nós Lutamos), de 2005. Com o ataque, em 1941, os EUA passam a investir pesadamente em armas e tornam-se dependentes dessa indústria para crescer.

Vidal dizia que nascia ali a nova perversão da democracia americana: cobrar muitos impostos dos civis e muito pouco das corporações.

Essa visão belicosa da história tem raízes familiares. O pai de Vidal era professor de aeronáutica da Academia de West Pont, a mais prestigiosa dos EUA, e o próprio escritor estudara engenharia aeronáutica na Universidade Harvard, em 1943.

Vidal não fazia segredo que fora em Harvard que havia forjado a sua visão da história. "Eu trabalho com ideias que formei em Harvard anos atrás. Eu não tenho uma ideia real desde que entrei nisso", disse, com um misto de sinceridade chocante e autopromoção calculada.

Nos ensaios, Vidal se via como um continuador de Edmund Wilson (1895-1972), um dos maiores ensaístas norte-americanos.

Era uma maneira nada sutil de se incluir entre os maiorais.

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