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Música

Thiago Pethit e Tatá Aeroplano reagem à "estética do bom-moço"

Em novos CDs, artistas vão na contramão da "fofura" que domina novos cantores brasileiros

Compositores bancaram os próprios trabalhos sem leis de incentivo e fazem crônicas da nova boêmia paulistana

Simon Plestenjak/Folhapress
Thiago Pethit, autor de “Estrela Decadente”
Thiago Pethit, autor de “Estrela Decadente”

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

"Estrela Decadente", novo álbum do paulista Thiago Pethit, 28, nasceu de um período de depressão, gerado na "ressaca dos quatro anos em que trabalhei com música".

"Nesse tempo, fui confundido com artistas que vieram depois, com estéticas semelhantes à minha, mas de posturas opostas. Não sou da cestinha dos católicos, dos bons moços, do casamento na igreja. Posso ser delicado, doce e sensível, mas o amor não é a salvação para mim."

O cantor enumera, como seus opostos, artistas mais novos do que ele, quase sempre na faixa dos 20, que vêm ganhando espaço por meio da internet: o cantor carioca Cícero, a dupla capixaba Silva, a banda paulistana Hidrocor, os curitibanos de A Banda Mais Bonita da Cidade.

Além da fofura estética, esses meninos têm em comum uma admiração indisfarçável pela banda Los Hermanos. Com melhor ou pior resultado, bebem diretamente na obra dos barbudos -sobretudo na de Marcelo Camelo.

"Estrela Decadente" reage ao bom-mocismo desde a capa, em que Pethit surge como "um James Dean de batom".

"É o ícone transmutado, maculado, travestido. Era assim que eu queria me apresentar para o mundo", diz. "Que discurso eu poderia usar em tempos em que evangélicos tomam o poder, nazistas batem nos gays na Paulista, Rita Lee é vaiada porque defendeu a maconha?"

Lançando o primeiro álbum solo, homônimo, o paulista Tatá Aeroplano, 37, desenvolveu seu discurso para esses tempos. E também passa a quilômetros de distância do amor "papai e mamãe".

Figura importante no desenvolvimento da atual cena musical paulistana (em que transitam nomes como Tulipa Ruiz, Criolo, Marcelo Jeneci e Tiê), as canções de Tatá descrevem as vidas de personagens, reais ou imaginados, que povoam esse cenário.

O amor, para eles, não tem nada de fofo ou redentor.

"Do nada você voltou a me bater/ Tomei tantas na cara que não deu/ Eu correspondi/ Te dei um par de tapas que doeu, doeu em mim/ (...) Algumas gurias vieram para tirar satisfação/ E alguns rapazes vieram já na base da porrada", diz a letra de "Par de Tapas que Doeu em Mim".

"Essas histórias não fazem parte dos padrões estabelecidos pela sociedade -muito pelo contrário", diz. "Eu me inspiro com as peças desbundantes do Zé Celso e do Teatro da Vertigem, com o Glauber Rocha, com meus amigos que vivem a boêmia intensamente. As coisas que escrevo vêm dessas experiências."

Desvinculados de gravadoras, tanto "Tatá Aeroplano" quanto "Estrela Decadente" foram bancados sem qualquer recurso de lei de incentivo. "Assim, temos uma liberdade de criar sem precisar fazer concessão a ninguém."

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