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Show celebra os 90 anos de Bibi Ferreira

"Histórias e Canções" chega a São Paulo após temporada no Rio e traz cantora e atriz relembrando vida e carreira

"Sempre levei tudo de forma muito natural. E sempre levei uma vida serena, sem escândalos, sem loucura", diz Bibi

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se o sujeito tem boa memória e suas pernas andam, fazer 90 anos é a coisa mais natural do mundo.

Bibi Ferreira, que nasceu em junho de 1922, crava essa frase como se estivesse falando de alguma outra pessoa que não de si própria, durante entrevista à Folha em um camarim da Rede Globo.

A atriz e cantora havia acabado de encerrar mais de três horas de gravação do "Programa do Jô".

Não parecia cansada, embora tivesse permanecido mais da metade do tempo em estúdio em pé para interpretar quatro números musicais -gravados duas vezes cada um.

A voz continua potente. E ela não dispensa o sapato de salto alto, o mesmo que usa durante o show comemorativo de sua trajetória que estreia amanhã em São Paulo, no teatro Frei Caneca.

Além de pernas e memória, Bibi mantém um fôlego invejável. "Fui privilegiada com uma boa formação das vias aéreas", diz.

"Aprendi a respirar com uma professora chamada Nilza Corrêa. Por favor, coloque o nome dela aí em sua reportagem", pede. "Se você não sabe respirar, você não sabe nada", desfere.

O "Programa do Jô" foi ao ar anteontem, e seus três blocos foram dedicados a Bibi, com depoimentos de figurões do teatro. Os diretores Antunes Filho e Juca de Oliveira e o músico Chico Buarque prestaram homenagens.

O tom dos depoimentos exemplifica uma intimidade que Bibi conquistou com profissionais de várias gerações.

PARCERIAS

Marília Pêra, Marco Nanini, Paulo Autran e Adriane Galisteu estão entre as dezenas de nomes que trabalharam com ela, quase sempre no palco. Bibi fez pouco cinema e TV porque não se considera fotogênica.

Jô Soares também é amigo de longa data, e Bibi chega a destratá-lo, simpática e carinhosamente, refutando perguntas sobre sua vida pessoal. Mais especificamente sobre ser ciumenta. Diz que não, não é ciumenta.

"Sempre levei tudo de forma muito natural. E sempre levei uma vida serena, sem escândalos, sem loucura", reafirma, no camarim.

Ela foi casada com Paulo Pontes (1940-76), dramaturgo que assinou com Chico Buarque "Gota d'Água". A peça é inspirada na tragédia grega "Medeia" e foi escrita em 1975 especialmente para ser interpretada por Bibi.

ESTREIA

Abigail Izquierdo Ferreira, seu nome de batismo, subiu ao palco pela primeira vez com 24 dias de vida, em "Manhã de Sol", para substituir uma boneca desaparecida.

Entrou em cena no colo de sua madrinha, a atriz Abigail Maia, muito amiga de seus pais, o ator Procópio Ferreira e a bailarina Aída Izquierdo.

Vinte e quatro dias não é um número preciso, pois Bibi não tem certeza do dia de seu aniversário. Sua certidão de nascimento registra 10 de junho. Sua mãe dizia que o nascimento foi no dia 1º, e seu pai afirmava que foi no dia 4.

Para celebrar seus 90 anos e uma coleção de histórias iguais a esta, a atriz intercala piadas a músicas de Edith Piaf, Noel Rosa, Chico Buarque e de outros compositores brasileiros em "Bibi - Histórias e Canções", que chega agora à capital paulistana.

Também interpreta a ária "Largo al Factotum", da ópera "O Barbeiro de Sevilha", que é para tenores.

O show é o mesmo que ela apresentou no Rio, entre abril e junho, na companhia de uma orquestra de 21 músicos.

"A orquestra abre o show. Depois eu falo umas piadinhas. Digo que no século 17 eu devia ter meus 13, 14 anos, quando me apaixonei perdidamente por Hollywood."

Bibi se refere a uma época em que não havia fita cassete nem DVD. Para aprender uma canção, ela ia várias vezes ao cinema, com lápis e papel em punho.

Foi assim que anotou "Uma Cascata", tradução para "By a Waterfall", sucesso de "Footlight Parade", filme musical de 1933. A canção é uma das primeiras que ela apresenta no show.

Bibi relembra ainda da época de parceria com Elizeth Cardoso (1920-90), cantora que ela dirigiu em três espetáculos diferentes.

"Você não dirige alguém do quilate da Elizeth. Apenas ajuda, dizendo coisas do tipo: 'Não vai entrar com essa calça, com esse cabelo, pelo amor de Deus'", diz.

Com tanta história na bagagem, Bibi ainda refuta a ideia de uma biografia. Diz que, quando aparecem com esse assunto, ela foge. Acha que estão colocando cimento no túmulo antes da hora. Diz que ainda tem muito mais histórias por vir.

BIBI - HISTÓRIAS E CANÇÕES
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 2/9
ONDE Teatro Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/3472-2229)
QUANTO R$ 120
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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