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Para Portella, baiano criou 'mulher-metonímia'

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Conterrâneo de Jorge Amado, e protagonista da abertura política durante o governo João Figueiredo, o ex-ministro da Educação, Cultura e Desportos (1979-1980) Eduardo Portella foi amigo do escritor baiano por 50 anos.

Aos 79 anos, Portella o retrata como um companheiro otimista e generoso. "Tentava ajudar as pessoas que vinham da Bahia. Como quando recomendou a João Saldanha, na época dirigente do Botafogo, um jogador chamado Bode. Foi uma catástrofe total", conta, aos risos.

A familiaridade com o candomblé serviria ao escritor mais como território de inspiração do que espaço para a prática religiosa. "Gostar, ele gostava, mas tenho minhas dúvidas se acreditava", diz.

Por mais de uma vez, Amado apontou Portella como o melhor intérprete de sua obra. "Talvez porque sempre fiz uma leitura distante da pressão ideológica. Ele chegou a ser impugnado tanto pela esquerda como pela direita. Mas, antes de político, ele era um escritor. E, como político, um heterodoxo."

Para Portella, traços marcantes da obra de Amado são o componente popular, a bipolaridade entre o real e o irreal e a anistia do corpo ("ele adorava essa expressão").

Ele aponta o surgimento da "mulher-metonímica", em que uma parte do corpo (adivinhe qual?) fala pelo todo.

Também sublinha a ideia de riso solidário que a obra de Amado evoca, em contraponto ao riso da soberba.

Atualmente Portella é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), e continua à frente da revista "Tempo Brasileiro", de crítica da cultura, que está comemorando 50 anos de vida.

Em meio às homenagens do centenário do amigo, ele só lamenta o "oba-oba" e a falta de uma releitura crítica da obra. Nesta conta entra o posfácio assinado pelo colega Lêdo Ivo, da ABL, escritor e poeta, em edição luxuosa de "Navegação de Cabotagem", lançada neste ano pela Companhia das Letras.

"O Jorge não gostava dele", diz Portella. Ivo rebate: "Nunca havia escrito nada sobre ele. Não vem ao caso se fomos amigos ou não, o que importa é a criação literária".

Ivo finaliza seu ensaio referindo-se ao escritor baiano como "o mais amado de nossos grandes clássicos".

As desavenças entre Ivo e Portella são públicas e notórias. Portella se recusa a estender o assunto: "Não é justo com a memória de Jorge".

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