Filho publicará cartas trocadas pelo casal

No mês que vem, João Jorge Amado lançará em Salvador o livro "Toda a Saudade do Mundo" (Companhia das Letras), que reúne cartas trocadas entre seus pais, Jorge Amado e Zélia Gattai, entre os anos de 1948 e 1978.

Além de evidenciar as confidências de amor trocadas pelo casal, o livro mostrará como ambos se posicionavam sobre o cenário político no Brasil e na Europa.

Segundo o autor, entre os assuntos abordados nas correspondências estão as perseguições sofridas pelo poeta chileno Pablo Neruda na França, a participação de Jorge Amado como dirigente do Conselho Mundial da Paz e os problemas sofridos durante a Guerra Fria por causa da pressão norte-americana.

"Algumas cartas de meu pai possuem carimbo de censura [do governo austríaco, durante o congresso do Conselho Mundial da Paz, em 1951]", diz João Jorge.

A ideia de escrever a obra, segundo ele, veio pouco depois da morte de sua mãe, em 2008. Sua irmã, Paloma Amado, decidiu morar no Rio de Janeiro e lhe entregou pastas com as cartas guardadas pela escritora.

Ao ler o material, manuscrito e datilografado, ficou surpreso com o conteúdo, que o levou a lembranças do passado de sua família.

Um delas trata da compra da Casa do Rio Vermelho (leia trecho ao lado), onde o casal morou por quase 40 anos.

Emocionado, João Jorge diz que a produção do livro durou três anos e lhe custou lágrimas de emoção ao digitalizar o material. Ele pensou até em desistir da tarefa.

"Cheguei à conclusão de que essa cartas não poderiam ser guardadas porque traziam informações importantes sobre o movimento político no Brasil e na Europa, com a participação deles. Mas foi muito complicado trabalhar com isso emocionalmente, tive de interromper algumas vezes."

O material será publicado com notas feitas por ele, nas quais identifica personagens e contextualiza fatos descritos pelo casal.