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Livro retrata anos de formação literária e atritos com ditadura

Biografia sobre Amado, de Josélia Aguiar, sai até o fim do ano pelo selo Três Estrelas

DE SÃO PAULO

Leia trecho do livro "Jorge Amado - Uma Biografia" (título provisório), de Josélia Aguiar, que será lançado até o fim do ano pelo selo Três Estrelas, do Grupo Folha.

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"De Estância, onde se refugia com mulher e filha depois de dois meses na prisão getulista, Jorge desabafa por escrito com o patrão José Olympio: o romance que começou, "Bahia", vai ser talvez o último. A razão para esmorecer não é a perseguição política. O que o decepciona são as intrigas literárias. (...)

Fora da sede da editora, o escritor ainda chefia o departamento de publicidade e se reparte em funções. A principal é vender os títulos aos governos da Bahia e de Sergipe. Dá palpites sobre como divulgá-los, diz quem entra e sai na lista de jornalistas que devem receber lançamentos em todo o país. Nos tantos livreiros que visita, inspeciona como estão expostas as obras. Em nova carta, cobra do editor os livros populares que planeja fazer: "Seu José, é preciso tratar disso. Os literatos nunca bastarão para sustentar uma casa".

A cidade se admira com o escritor que ali buscou abrigo. Tem 23 anos, quatro romances, edições em Paris e Buenos Aires, incomoda o governo. Não passa de um frangote: muito magro, cabelos rebeldes, roupa amarfanhada. Tira goiabas nos pés da praça, toma banho de rio, senta-se nas cadeiras com o espaldar virado, pernas abertas, pé na mesa, cigarro aceso espalhando cinza e fumaça. Logo se vai tornar um agitador cultural. Escreve, ensaia e redige um jornal falado. Incentiva a realização do concurso de miss Estância e leva sua candidata ao triunfo -apesar de a própria moça vitoriosa achar sua principal concorrente mais bonita. Arruma verba para ampliar o lactário. Organiza campanha para a biblioteca. Gozador, vistoria o presépio de Natal e recomenda que incluam a fotografia de Lênin.

A escrita de "Bahia" avança. Na próxima carta a José Olympio, o ânimo é outro: "Tenho certeza de que é meu maior livro". (...)

O primeiro exílio termina em 1937. De volta ao Rio, manda notícias e agrados àqueles que o hospedavam em Estância: "Juca, tenho comido em muitos bons hotéis, alguns deles muito importantes, mas nenhum tem a boia parecida". A outro amigo, o dono da Papelaria Modelo, anuncia que por fim está pronto "Bahia". Será dedicado a ele, João Nascimento. E agora se chama "Capitães da Areia".

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