Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Relação em crise

Até hoje queridinho fora do país, Fernando Meirelles vê "360", exibido em Gramado, fracassar em crítica e público nos EUA

Quico Meirelles/Divulgação
A atriz Maria Flor em cena de "360"
A atriz Maria Flor em cena de "360"

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

Normalmente, diretores de cinema podem passear tranquilamente em qualquer cidade do Brasil. Não é o que ocorre com Fernando Meirelles.

Enquanto almoça com a reportagem da Folha, no restaurante de um hotel em Gramado, onde seu novo filme, "360", abriu a 40ª edição do festival de cinema, na última sexta, ele é interrompido para fotos e autógrafos.

O status de Meirelles não é por acaso. Ele mostrou que o cinema nacional poderia ser moderno com "Cidade de Deus", deu um Oscar para a atriz Rachel Weisz por "O Jardineiro Fiel" e ousou adaptar "Ensaio Sobre a Cegueira".

"360" é outra história. "A minha intenção era escrever um conto", admite. "Eu queria fazer uma comédia pequena com Jorge Furtado sobre uma brasileira que se apaixona por um garoto da Jordânia em Nova York até acontecer o 11/9. Mas não deu certo e surgiu esse projeto."

Apesar der ter astros do quilate de Anthony Hopkins, Jude Law e Weisz, o longa baseado na peça "Reigen", de Arthur Schnitzler (1862-1931), é o menor filme do brasileiro. Teve um orçamento de US$ 8 milhões (R$ 16 milhões) e, até agora, o pior desempenho de um filme de Meirelles nos EUA: em dez dias, rendeu apenas US$ 26 mil (R$ 52 mil).

O longa foi rodado em três meses e traz um tema incomum na filmografia de Meirelles: sexo. "Nem posso dizer que '360' é um filme meu. É mais de Peter Morgan."

Morgan, indicado ao Oscar por "A Rainha" (2006) e "Frost/Nixon" (2008), escreveu uma trama sexual sobre personagens conectados desde uma prostituta em Viena até um senhor inglês (Hopkins) em busca da filha.

Meirelles é hoje um cineasta brasileiro respeitado no exterior, mas desta vez a crítica em língua inglesa não perdoou o filme. "Estou calejado. Tomo pancada desde 'Cidade de Deus', falaram que o longa seria esquecido em três meses. Mas Peter ficou acabado. Disse que poderia largar o cinema para fazer só TV", revela Meirelles.

A produção foi adiada no Brasil, de maio passado para a próxima sexta, algo que raramente acontece com blockbusters. "Por contrato, não poderia lançar antes dos EUA [onde estreou sexta passada]. Queriam evitar a pirataria."

A estratégia de colocar o longa antes em pay-per-view nos EUA gerou, porém, cópias que podem ser encontradas em sites de pirataria. "Eu não sabia", conta Meirelles. "Acho que podem queimar o mercado brasileiro, mas não o americano. A vida é injusta", reclama o cineasta.

Dramas à parte, o brasileiro prepara-se para retornar aos filmes de maior orçamento. Em novembro, começa a filmar "Nêmesis", sobre o magnata Aristóteles Onassis (1906-1975). "Já temos o dinheiro [US$ 30 milhões], o cenário e a lista do elenco secundário. Só falta assinar com o ator que fará Onassis", diz ele, sem revelar nenhum nome para o épico escrito por Bráulio Mantovani.

Após "Nêmesis", Meirelles deve retornar ao Brasil para seu primeiro filme nacional desde "Cidade de Deus". Ele ainda não sabe qual é o tema. "O Mensalão daria um filme incrível. Mas é complicado, tramas de tribunal são difíceis. Estou mais interessado em política ambiental."

O repórter RODRIGO SALEM viajou a convite da organização do festival

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.