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Análise

Julgamento abala relação entre Putin e a classe média russa

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O julgamento das meninas do Pussy Riot pode significar um ponto de inflexão na já esgarçada relação entre a emergente classe média russa e o patrono de sua ascensão, o presidente Vladimir Putin.

O crescente autoritarismo de Putin desde sua eleição em 2000 era compensado pela bonança econômica do petróleo e gás abundantes na Rússia.

O pacto funcionou até Putin anunciar que concorreria à Presidência neste ano, após permanecer no poder como premiê depois de seus dois primeiros mandatos.

Milhares foram às ruas, mas Putin reelegeu-se.

A confiança, contudo, foi quebrada, e um acuado Putin recorreu a leis duras contra o direito de manifestação.

Nesse contexto surgiu o Pussy Riot, até então largamente marginal e ignorado.

Menos uma banda e mais um "coletivo", o grupo só se fez notar quando atacou Putin numa perfomance ilegal em um dos símbolos da Rússia pós-soviética, a catedral do Cristo Salvador em Moscou.

A igreja, destruída por Stalin, foi reconstruída e reaberta em 2000. A Igreja Ortodoxa Russa, após perseguição sob o comunismo de 1917 a 1991, hoje é um braço do poder de Putin -como acontecia na época dos czares.

É contra essa aliança que o Pussy Riot berra a letra: "Santa Maria, Virgem, expulse Putin!". Num país em que religiosidade é parte da identidade nacional, a ladainha barata nem é das mais populares.

Até aqui, um dos mártires do autoritarismo russo era o ex-magnata Mikhail Khodorkovski. Preso e despossuído, ele emitiu nota de apoio às moças, mas sua causa nunca falou alto ao cidadão comum.

Já a percepção de que jovens filhas da classe que emergiu sob Putin estão sendo abusadas por uma Justiça subserviente ao Estado, mesmo com a desconfiança que tanta grita externa em apoio a elas traz, isso pode ter efeitos inesperados.

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