Crítica Comédia

Longa trata envelhecimento e sexualidade de forma saborosa

De vez em quando alguém da indústria percebe que não dá para fazer filmes mirando só o público "topa-tudo" e decide produzir para plateias com interesses distintos.

"Um Divã para Dois" focaliza dilemas da vida comum dos que estão acima da faixa dos 40 anos. Trata-se, portanto, de ajustar uma fórmula para atrair um público desprezado pela máquina de entretenimento para jovens.

O tédio cotidiano de um casamento estável, os relacionamentos em que o ardor da paixão cedeu lugar e importância para o companheirismo, em que o sexo burocrático ou ausente mal esconde o inconfessável apagamento do desejo, são alguns dos temas desta comédia doce-amarga.

O antirromantismo ganha um tratamento direto e indiscreto hoje predominante nas séries de TV, universo criativo do qual a roteirista Vanessa Taylor traz sua experiência.

Tais diferenciais, porém, talvez não funcionassem tanto se não fosse a presença conjunta de Meryl Streep e Tommy Lee Jones, dupla à qual se aplica com exatidão o inefável termo "química".

Ambos usam suas caretas sem abusar, exibem seus físicos de sessentões e assumem que o tempo passa para todos os mortais, incluindo as estrelas de Hollywood. Desse modo, projetam na tela uma imagem que tem como efeito a identificação instantânea.

Com esse "dream team" nas mãos, a direção de David Frankel conduz sem tropeços, a serviço do material, sem se esforçar para fazer um filme com assinatura.

A eficácia aqui se deve também à habilidade de reutilizar as regras da comédia de "recasamento", gênero quase infalível da tradição hollywoodiana no qual um casal ameaçado de extinção vive peripécias cômicas que o salvam "in extremis".

Há décadas, o gênero antecipou conquistas de comportamento ao representar a insubordinação feminina como um modo de afirmação.

Agora, depois que todos os avanços parecem alcançados, trata-se de demonstrar que, no mundo pós-Viagra, a sexualidade não tem idade.

Como todo filme de fórmula, "Um Divã para Dois" não pretende inventar nada. A receita, no entanto, reúne ingredientes tão bons que o sabor fica, no mínimo, delicioso.