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A voz do patrono

Zubin Mehta fala de orquestras sociais, como a de Heliópolis, que apadrinha e que regerá na 4ª, em São Paulo

Adriano Vizoni/Folhapress
O maestro indiano Zubin Mehta, 76, retratado no último sábado, em São Paulo
O maestro indiano Zubin Mehta, 76, retratado no último sábado, em São Paulo

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Depois de amanhã, no Theatro Municipal de São Paulo, o legendário maestro Zubin Mehta regerá pela primeira vez uma orquestra brasileira.

Para essa estreia, o regente nascido em Mumbai, Índia, escolheu conduzir os 80 músicos da Sinfônica Heliópolis.

Mehta, 76, é, desde 2005, patrono do agrupamento criado na maior favela paulistana -são 100 mil habitantes- pelo Instituto Baccarelli, produto de um projeto social que já conta 16 anos.

Na plateia, 350 jovens, muitos dos quais estudantes de música na comunidade, convidados pelos patrocinadores a assistir ao evento.

"Essa orquestra é um passaporte para as pessoas saírem da favela", afirma o maestro, em entrevista à Folha.

Em uma trajetória musical com mais de meio século, dirigiu algumas das melhores orquestras do mundo, como as filarmônicas de Nova York e de Los Angeles e a Bayerische Staatsoper, de Munique.

Mehta é diretor musical vitalício da Filarmônica de Israel e regente honorário (entre outras) da Orchestra del Maggio Musicale Fiorentino, que comandaria ontem e hoje na Sala São Paulo.

O histórico de ações de Mehta na música como afirmação política em situações de conflito também é conhecido. Ele já regeu orquestras em campo de concentração e em Sarajevo, na Bósnia.

Atualmente está à frente de um projeto de formação musical em Nazaré, cidade israelense de maioria árabe. "Meu sonho é ter um árabe integrando o corpo da Filarmônica israelense", diz.

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Folha - Por que escolheu Heliópolis?

Zubin Mehta - Em 2005 fui convidado a visitar o projeto e fiquei impressionado com a orquestra. Penso que o instituto seja um passaporte para as pessoas saírem da favela, como os judeus fizeram com a música para saírem dos guetos no século 19.

Como interpreta o conflito árabe-israelense?

O maestro Daniel Barenboim criou um excelente projeto com o escritor Edward Said (1935-2003), que é a West-Eastern Divan Orchestra, integrada por árabes e israelenses. É o único fórum do mundo em que eles se sentam juntos em harmonia.

Um tabu em Israel é a execução da música de Wagner.

Não tocamos Wagner. Tentamos uma vez, mas não tivemos sucesso, e sim muitos problemas. No futuro certamente tocaremos, porque musicalmente é muito importante. Mas há muitas pessoas com os números dos campos de concentração tatuados em seus braços e que o associam ao regime nazista. Nesse caso, a música os leva de novo para o terror, e temos de ser compreensivos.

Qual sua impressão sobre a cena erudita brasileira?

Não sou especialista em samba (risos). Tenho escutado muitos elogios à Osesp. Mas hoje minha grande relação é com Heliópolis. E a orquestra está cada vez melhor.

Como visualiza o futuro da música erudita?

Não há assentos vazios nas salas de concerto da Europa. Nesse sentido, as coisas vão bem. Mas o suporte à música erudita não vai bem. Os governos têm colocado cada vez menos dinheiro nisso, dependemos mais da iniciativa privada. Isso não é suficiente.

ZUBIN MEHTA EM SP

QUANDO hoje, às 21h, à frente da Orchestra del Maggio Musicale Fiorentino; quarta (22/8), com a Sinfônica Heliópolis
ONDE hoje, na Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 0/xx/11/3367-9500); na quarta, no Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/n, tel. 0/xx/11/3397-0300)
QUANTO de R$ 140 a R$ 330 (hoje); de R$ 150 a R$ 300 (quarta)
CLASSIFICAÇÃO livre (hoje) e 10 anos

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