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O rugido do leão

Mais antigo dos festivais de cinema, Veneza ganha aspecto mais comercial para enfrentar concorrência de outros eventos

Divulgação
O Leão de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cinema de Veneza
O Leão de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cinema de Veneza

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

O primeiro filme a ser exibido no Festival de Veneza, quando ainda era chamado de "exposição cinematográfica", foi "Dr. Jekyll and Mr. Hyde", de Rouben Mamoulian, em 1932.

Oitenta anos depois, Alberto Barbera, o novo diretor artístico do festival italiano, precisará se inspirar no personagem de Robert Louis Stevenson para a 69ª edição do evento, que começa na quarta-feira, 29/8.

Ele terá de controlar o prestígio dos filmes de arte e liberar o monstro do mercado de produções hollywoodianas.

"Precisamos trazer de volta para Veneza os compradores, fazer a conexão entre o mercado e os cineastas", confirma Barbera, que já ocupou o cargo entre 1998 e 2002.

Mas combinar mercado e filmes de autor não é o único que Barbera enfrentará.

O Lido, a ilha onde ficam o Palazzo del Cinema e as salas de exibição, não suporta tantos turistas, e seus cinemas ficaram ultrapassados.

"Eu falei que aceitaria o cargo sob uma condição: a renovação das salas. Já há algumas mudanças para este ano, como a fachada restaurada do Palazzo e a nova Sala Grande. Em três anos, a renovação será completa", garante o diretor à Folha.

Barbera adianta que o festival abrirá um laboratório permanente para novos cineastas de todas as nacionalidades. Três realizadores serão selecionados para fazer filmes de baixo orçamento (cerca de € 50 mil, R$ 125 mil) para exibição na edição seguinte. "É um trabalho único e ambicioso", conta.

Quanto ao que de fato importa em um festival de cinema -a seleção dos longas- Barbera radicalizou.

Cortou três produções da competição oficial pelo Leão de Ouro (agora são 18 longas), cancelou a mostra italiana Contracampos e diminuiu os eventos não competitivos.

"Queria ter uma seleção mais enxuta, porque não havia salas e tempo suficientes para todo mundo ver tantos filmes. Consequentemente, havia menos divulgação das obras", explica Barbera.

Entre os destaques da competição, há o novo filme de Terrence Malick ("To The Wonder") e "The Master", de Paul Thomas Anderson ("Sangue Negro").

Há ainda o esperado remake "Passion", de Brian De Palma; o polêmico "Bella Addormentata", de Marco Bellocchio, sobre um famoso caso de eutanásia; e "Outrage Beyond", sequência do épico de máfia de Takeshi Kitano.

Em meio ao anúncio dos competidores, no fim de julho, uma confusão: "The Master" foi anunciado pela revista "Variety", mas não estava na lista inicial, sendo incluído dez dias depois.

"Coisas assim são normais em qualquer festival. Havia um problema técnico com a projeção [em 70mm, exigência do diretor] que foi resolvido, mas os Weinstein [produtores do filme] estão acostumados a fazer truques de marketing", alfineta Barbera.

A première do longa "The Master", cotadíssimo para o Oscar 2013, foi essencial para mostrar a força de Veneza sob nova direção. O evento enfrenta uma grande concorrência do Festival de Toronto, cada vez mais atraente para os produtores americanos.

"O prestígio de Veneza é muito forte. Tivemos apenas dois filmes que não vieram, mas por questões financeiras. Com a crise, alguns produtores não querem investir para colocar um longa no festival e correr o risco de não ser bem recebido", explica ele.

Quando a reportagem pergunta sobre a ausência do Brasil na seleção, Barbera desconversa: "Temos interesse na América Latina, mas talvez nos tenha faltado sorte quanto aos filmes inscritos".

"Vimos diretores talentosos e vamos esperar que façam longas capazes de competir em um grande festival", completa o organizador.

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