Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Crítica música erudita

Nelson Freire trata brasileiros com respeito em disco delicioso

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nelson Freire resolveu se aproximar da música de seu país por meio da miniatura. Com 30 faixas, "Brasileiro", seu mais recente CD, faz um breve panorama da música do país entre o final do século 19 e o começo do século 20.

O subtítulo do álbum, "Villa-Lobos & Friends", é meio enganoso. Pois, se Villa-Lobos domina o disco, a rigor não dá para chamar os outros sete compositores que Freire coloca para gravitar em torno dele de seus amigos.

O paulista Alexandre Levy (1864-1892), por exemplo, que contribui com um delicioso "Tango Brasileiro", morreu quando o autor das "Bachianas Brasileiras" tinha apenas cinco anos.

Na década de 1970, Freire gravou um excelente LP (depois relançado em CD) dedicado exclusivamente a Villa-Lobos, contendo obras agressivas como o "Rudepoema", a "Prole do Bebe nº 1" e "As Três Marias".

"Brasileiro" abre com "Carnaval das Crianças", a obra para piano solo que deu origem a "Momoprecoce", para piano e orquestra, que ele recentemente andou tocando com a Osesp.

Apresenta ainda oito obras breves de Villa-Lobos, destacando itens célebres como os "Choros nº 5 - Alma Brasileira", "Valsa da Dor" e "A Lenda do Caboclo".

O pianismo de Villa-Lobos possui diversas facetas. Para além do colorido "nacional", há obras que dialogam com o melodismo de Chopin ou com o romantismo tardio de Rachmaninov.

Versado não apenas na linguagem do compositor, mas também em suas influências, Freire se move com desenvoltura pelas diversas camadas de seu discurso musical, revelando de forma iluminadora o estilo de cada uma das obras que decide abordar.

COSMOPOLITISMO

Tal cosmopolitismo se faz notar igualmente nos outros compositores do disco. E o pianista acaba trazendo àquelas de intenção mais marcadamente nacionalista uma "ginga" que não estamos habituados a associar ao instrumentista.

Era fácil imaginar, por exemplo, que sua leitura "Valse Lente" de Henrique Oswald (1852-1931) evocaria à perfeição o universo afrancesado do compositor paulista filho de suíços.

Bem menos previsível, contudo, é o jogo de cintura que ele emprega na "Dança Negra", de Camargo Guarnieri (1907-1993), ou na "Congada", de Francisco Mignone (1897-1986), que encerra o novo álbum.

Freire trata os autores brasileiros com o mesmo apuro e respeito dos grandes mestres internacionais que está habituado a tocar, e o resultado não é menos que delicioso.

BRASILEIRO: VILLA-LOBOS & FRIENDS
ARTISTA Nelson Freire
GRAVADORA Decca
QUANTO R$ 34, em média
AVALIAÇÃO ótimo

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.