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Minha História - Luiz Meneghin, 54

Com voz, sem casa

(...) Os jurados se levantaram para me aplaudir. (...) Mas eu estava triste. Havíamos acabado
de perder a casa por não pagarmos a hipoteca

(...) Depoimento a

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

RESUMO

O paulista Luiz Meneghin sempre quis ser cantor de ópera. Morando nos EUA há 20 anos, ele perdeu a casa na mesma época em que participou de um famoso programa de auditório na TV.

Três dias antes do meu primeiro teste para a TV, perdi a voz. Na segunda apresentação na TV, havia perdido a casa.

Sou enfermeiro e meu sonho é cantar profissionalmente no mesmo estilo do Andrea Bocelli.

Nasci em Ribeirão Preto (SP) e vim para os EUA com minha mulher e três filhas em 1992. Hoje canto em funerais, casamentos e, principalmente, para pacientes idosos numa clínica em Lehi, Utah.

Há uns 12 anos, descobri meu talento para a ópera. Havia comprado um CD de Bocelli chamado "Viaggio Italiano" e ouvia sem parar a canção "Nessun Dorma". Sempre me tomava de emoção. Passei a cantarolar junto no carro e no trabalho.

O pessoal da clínica percebia e pedia para eu cantar mais alto. Logo, estava cantando na hora do almoço. Hoje, me apresento no lobby, que tem acústica boa. Ao final, sempre dou um beijinho em cada velhinha.

Passei a receber convites, me apresentei no casamento das minhas filhas.

Minha mãe cantava muito bem, e meu pai era compositor. Ele teve uma música no topo das paradas de sucesso, interpretada por Moacyr Franco, chamada "Kataí", sobre um japonês. Um estouro.

Tive poucas aulas de canto, porque são muito caras.

Aprender inglês foi parecido. Tinha o inglês da escola e o que aprendi com americanos mórmons quando fui missionário da minha igreja no Brasil nos anos 70.

Por incentivo de amigos, me inscrevi no programa "America's Got Talent" [um dos jurados é Sharon Osbourne, mulher de Ozzy].

Em maio, fiz o primeiro teste em San Francisco, mas três dias antes peguei uma gripe do meu neto. Perdi a voz. Havia guardado dinheiro por seis meses para a viagem.

Comecei a me medicar e, no dia da triagem do show, a voz melhorou e consegui passar. Duas semanas depois, me apresentei na TV. Esperei das 8h às 20h, tomando anti-inflamatório, pastilha, mel.

No final, você vê na TV aquela emoção toda porque não sabíamos se eu ia conseguir cantar a nota final, mais alta. Mas deu certo, e o público se emocionou, os jurados até se levantaram para me aplaudir. Fui classificado para a segunda fase.

Mas eu estava estressado e triste. Havíamos acabado de perder a casa por não pagarmos a hipoteca. Na semana da viagem, passamos dias esvaziando a casa, limpando, carregando móveis.

Quando demos entrada na hipoteca, oito anos atrás, tinha um bom emprego. Mas, três anos atrás, fui demitido e nunca achei outro à altura.

Nossa situação estava ruim. Ainda assim, não me apresentei mal em Vegas. Apenas falhei numa nota.

Minha esperança era ir para a próxima fase. Infelizmente não me chamaram.

A experiência, no entanto, foi inesquecível, um grande sonho. Agora, é buscar novas oportunidades.

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