Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Premiada mezzo-soprano se apresenta na Sala São Paulo

Joyce DiDonato participa hoje e amanhã da temporada do Cultura Artística

A intérprete americana, tecnicamente perfeita, traz no repertório Haendel e Mozart, com equilíbrio dramático

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A mezzo-soprano norte-americana Joyce DiDonato, 43, apresenta-se hoje e amanhã na Sala São Paulo, na temporada do Cultura Artística. Ela estará acompanhada pelo pianista francês David Zobel, seu parceiro desde março do ano passado.

DiDonato é uma intérprete tecnicamente perfeita e de belíssimo timbre. Seu repertório com 32 personagens -sobretudo Haendel, Mozart ou Rossini- é tratado com muito equilíbrio dramático, sem friezas ou exageros.

Recebeu neste ano o Grammy como melhor vocal erudita, mas isso não faz muita diferença. Teresa Berganza recebeu o mesmo prêmio em 1996, e Cecilia Bartoli, em 2011. Nenhuma precisava de um Grammy para catapultar suas carreiras. Entre as indicadas deste ano, estava a soprano francesa Natalie Dessay, cuja imagem nada sofreu por não ter ganhado.

O Grammy, quando se trata de cantores líricos ou instrumentistas de concerto, é apenas uma espécie de passaporte para o varejo discográfico americano.

Com pedigree artístico de peso muito maior, DiDonato recebeu duas vezes o Diapason d'Or e, em 2010, foi eleita artista do ano pela revista britânica "Gramophone".

No repertório lírico, a mezzo raramente é a heroína, com algumas exceções, como na "Carmen", de Bizet. "A gama de personagens que interpreto é muito mais variada que a disponível para uma soprano, e aprendi muito com todas elas", disse à Folha.

Por ser mais grave, seu registro de voz é aproveitado pelos compositores para papéis masculinos, como Cherubino (Mozart) e Octavian (Richard Strauss). Ou mesmo Romeu, em "I Capuleti e i Montecchi", versão de Vincenzo Bellini para o drama de Romeu e Julieta.

Ela irá refazer em breve esse último papel, "tão diferente de minhas experiências pessoais, como uma mulher já longe da adolescência e da capacidade de mergulhar num amor sem freios".

Diz o mesmo com relação ao papel título em "Maria Stuarda", de Donizetti, que a leva a entrar na retidão moral de uma monarca.

MAESTROS

DiDonato diz ter aprendido muito com grandes maestros com os quais já atuou, sobretudo o britânico Antonio Pappano, desde 2002 diretor musical, em Londres, da Royal Opera House. Cita também James Levine, Colin Davis ou Charles Mackerras, que "ajudaram-me a reaprender constantemente as características de minha voz".

Ela participou de ao menos três estreias mundiais de óperas de compositores ainda vivos -Michael Daugherty, Mark Adamo e Jake Heggie- e diz ser gratificante tirar dúvidas com o próprio autor.

Guardadas as proporções, no entanto, afirma ocorrer o mesmo com Haendel, que morreu em 1759, ou Rossini, que se foi em 1868. "Quando estudo as partituras que nos deixaram, é como se eu abrisse um diálogo direto com todos eles." Diz ser seu jeito de se aproximar de um papel, e não por meio de gravações já existentes de cada ópera.

A cantora afirma, por fim, não acreditar que exista uma crise no mercado fonográfico, como efeito dos problemas econômicos mundiais. "Nunca se venderam tantos CDs de ópera como agora." Em verdade, diz, o perfil do mercado mudou, com a aparição de selos independentes e especializados num certo tipo de repertório.

"Mas a demanda não diminuiu, e o mesmo se dá com a quantidade programada de récitas ao vivo."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.