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Veneza reúne grandes diretores norte-americanos em busca da fé

"The Master", de Thomas Anderson, e "To The Wonder", de Malick, seguem direções opostas

Longa que reúne Ben Affleck, Rachel Weisz e Javier Barden dividiu crítica com vaias, gritos de "fora" e aplausos

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Paul Thomas Anderson e Terrence Malick pertencem a gerações diferentes. O primeiro tem 42 anos e é conhecido por longas repletos de diálogos cortantes. O segundo completará 69 anos em novembro e cada vez menos insere falas em seu roteiros.

O primeiro é o diretor prodígio de "Magnólia" (1999) e "Sangue Negro" (2007). O segundo fez clássicos como "Cinzas no Paraíso" (1978) e não trabalhou por 20 anos para retornar com "Além da Linha Vermelha" (1999).

Em comum, são dois dos mais respeitados cineastas americanos em atividade. No fim de semana, tiveram seus filmes colocados frente à frente no Festival de Veneza. E ambos são sobre fé.

"The Master", de Anderson, é uma investigação ambiciosa sobre as origens de uma religião moderna, muito semelhante à cientologia.

Já "To The Wonder" repete os temas religiosos levantados no longa anterior de Malick ("A Árvore da Vida"), como a procura da felicidade divina inalcançável.

Anderson entrou em terreno perigoso ao criar Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), baseado no escritor L. Ron Hubbard (1911-1986), pai da cientologia. "Fui ingênuo. Não achei que chamaria atenção. Não trato da cientologia, mas de amor", exalta Anderson à Folha.

Criador de um culto baseado na ciência e na regressão chamado de "A Causa", Dodd encontra a cobaia perfeita em um alcoólatra, ex-soldado da Segunda Guerra (Joaquin Phoenix, que parte na frente como favorito ao Oscar de melhor ator em 2013).

O "mestre", um escritor, físico e filósofo, cria, em plena década de 1950, práticas que supostamente podem curar doenças mentais -e físicas, razão pela qual é perseguido.

As práticas guardam várias características atribuídas à cientologia, cujo membro mais famoso é Tom Cruise.

Cruise, por sinal, é amigo próximo de Anderson. "Mostrei o filme para ele. O resto fica entre nós", desconversa o simpático cineasta.

"To The Wonder" vai pelo caminho oposto. É um filme que admite a presença de Deus, mas procura entendê-la de forma mais íntima.

Ben Affleck é um autor que vaga como o anjo de "Asas do Desejo" (1987), sem comunicar-se -ele mal tem falas- e dividido entre vários amores.

O primeiro deles é uma europeia vivida pela russa Olga Kurylenko. O segundo é uma paixão rápida. O terceiro é o trabalho sobre uma pequena cidade americana afetada pela poluição no solo, outro tema favorito de Malick.

"Ele é um homem que tenta de tudo para ficar com as pessoas que ama, mas não consegue. Será que existe uma vontade divina ou isso é fruto do livre arbítrio, já que nem sempre conseguimos ficar com as pessoas que amamos?", filosofa Kurylenko.

O time do longa se completa com o padre em conflito de Javier Bardem.

"Terry faz filmes que não precisam de palavras. Você sabe de tudo por imagens e movimentos", diz ela. O longa, ao contrário de "The Master", dividiu a crítica entre vaias, gritos de "fora" e aplausos animados.

"To The Wonder" não se desenvolve ou comove. Malick constrói, como sempre, um xadrez de imagens deslumbrantes, mas sem comunicação. E, no cinema, assim como no amor e na fé, comunicação é tudo.

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