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'Penso em morte o tempo todo', confessa Abramovic

DO ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Todos pensamos em morte. Mas quando a maior artista performática viva pensa no assunto, algo é criado além da morbidez.

Foi o que aconteceu com a sérvia Marina Abramovic, 65, que juntou o diretor teatral Bob Wilson, o ator Williem Dafoe e o músico Antony Hegarty, do Antony & The Johnsons, para uma ópera moderna chamada "Life and Death of Marina Abramovic", encenada no ano passado em Manchester e em Madri.

"Penso em morte o tempo todo, principalmente depois dos 50 anos. Quando fui no funeral de Susan Sontag, foi tudo triste e injusto, porque aquilo não era ela, uma pessoa maior que a vida", lembra-se Abramovic.

"Decidi que aquilo não aconteceria comigo. Fui a um advogado e falei que queria ser enterrada em três cidades diferentes, Belgrado, Amsterdã e Nova York, e que ninguém deveria saber onde o corpo estaria."

O projeto de funeral performático não parou no estranho testamento. Um documentário homônimo foi produzido para registrar os bastidores da ópera.

"É um diário de Marina", falou à Folha a diretora italiana Giada Colagrande, em Veneza, onde o longa foi apresentado pela primeira vez. O filme estará no Festival de Cinema do Rio.

No documentário, Abramovic interpreta vários papeis, inclusive o da própria mãe. "Foi difícil ver meus traumas expostos", confessa Abramovic, que já fez performances como ficar sentada mais de 700 horas enquanto era encarada pelos visitantes do MoMA de Nova York.

"Não gostava de teatro, mas mudei de ideia após a experiência. Foi libertadora, melhor que qualquer terapia", brinca a artista.

"Tivemos discussões sobre atuação, mas no fim chegamos a um ponto em comum sobre arte", revela Dafoe.

O choque entre o exagero da ópera de Bob Wilson e a busca da verdade intensa de Abramovic se perde um pouco no documentário.

Abramovic está agora trabalhando na nova versão de "O Bolero", de Maurice Ravel, coreografado por Damien Jalet e Sidi Larbi Cherkaoui, que estreará em Paris em maio de 2013, e em uma refilmagem de "O Teorema", de Pasolini.

"Deixo todo mundo cansado ao meu redor. Preciso criar, porque posso morrer a qualquer momento", diverte-se ela, que guardou um projeto especial para o Brasil.

"Vou passar três meses no Brasil para um projeto a ser exibido em seis cidades durante a Copa do Mundo."

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