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Diretor revê anos de repressão em tom esperançoso

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Ugo Giorgetti foi buscar nos anos sombrios da ditadura militar o tema para seu filme mais esperançoso.

A ameaça da repressão paira o tempo todo, mas, como lembra o narrador da história (Paulo Betti), aquele inverno de 1971 foi também um período formidável.

Era a época de juventude dos personagens, da descoberta do amor, do florescer das vocações artísticas, da liberação feminina.

Nem mesmo gentileza estava ausente, e até os mais reacionários personagens são capazes de atos de nobreza.

"A ditadura foi uma época muito complexa, tentei passar minha visão. A denúncia da brutalidade já se esgotou; quis buscar um outro caminho", conta Giorgetti.

Assim como os protagonistas, contrários à repressão mas também descontentes com o dogmatismo da esquerda, o diretor sempre teve enorme dificuldade em se ligar a algum partido político.

Preferia a resistência cotidiana, dos que compravam a revista "Pasquim" e pregavam a flexibilização das rígidas normas sociais.

Em 1971, Giorgetti tinha 29 anos, era casado e trabalhava com publicidade, atividade à qual se dedicou com regularidade até 1999.

Só estreou como diretor de longas em 1986, com "Jogo Duro". "Sempre achei o cinema muito difícil, não é para qualquer um. Demorei muito tentando entender como funcionava."

A longa espera não foi em vão. Em longas como "Festa" (1989), "Sábado" (1994), "Boleiros" (1998) e "O Príncipe" (2002), construiu uma obra sólida -e quase sempre amarga- sobre os contrastes sociais e os rumos do país.

O entusiasmo de "Cara ou Coroa" é uma exceção em sua obra, mas não aplacou o ceticismo do diretor.

"As coisas não saíram como imaginávamos nos anos 1960. Ficou mais difícil enfrentar os problemas. Há um mal-estar no mundo."

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