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Autoplágio de Brian De Palma encerra competição em Veneza

Cineasta americano repete suas referências em "Passion", como Hitchcock e ópera na trilha

"The Master", de Paul Thomas Anderson, é o favorito para levar o Leão de Ouro 2012, que será entregue hoje

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

A ideia da organização do 69º Festival de Cinema de Veneza era óbvia ao programar "Passion", novo thriller de Brian De Palma para o último dia da competição: evitar que o evento fosse esvaziado pelo Festival de Toronto, que começou na última quinta-feira e cada vez mais serve de plataforma de lançamento dos filmes do Oscar.

Mas o tiro saiu pela culatra. O remake do francês "Crime de Amor" (2010), de Alain Corneau, pouco acrescentou na corrida pelo Leão de Ouro, que será entregue hoje. Rachel McAdams não possuiu o talento (só a beleza) para fazer uma executiva que vive em uma relação de abuso (profissional e emocional) com sua funcionária (Noomi Rapace, meio perdida).

A cena de beijo entre as duas personagens é tão sensual quanto uma travessia de patos por uma rodovia.

De Palma, que estava sem filmar desde o pseudo-documentário "Guerra sem Cortes" (2007), parece que gosta de cometer erros grosseiros a cada década -basta lembrar dos horrorosos "Femme Fatale" (2002) e "Síndrome de Cain" (1992).

O cineasta volta a se auto-plagiar (outra cena de escada em câmera lenta, algo que costuma repetir desde o clássico "Os Intocáveis"), toca em temas batidos de sua filmografia (dupla identidade, máscaras) e se mostra um cineasta sem novas referências (outra vez, uso de homenagens a Hitchcock e inserções operísticas na trilha).

O longa abriu para o italiano "Un Giorno Speciale", que mais parece um encontro raso de "Antes do Amanhecer" com "Uma Linda Mulher". Nem a imprensa italiana, sempre empolgada, conseguiu se animar com a obra de Francesca Comencini.

O FAVORITO

Em compensação, a baixa qualidade do último dia de competição confirmou que Veneza tem um grande favorito, "The Master", de Paul Thomas Anderson ("Magnólia" e "Sangue Negro").

O filme é tecnicamente caprichado, e a projeção em 70 mm, um formato quase extinto no cinema, encaixa perfeitamente no gosto do presidente do júri, Michael Mann ("Colateral"), um fanático por lentes e câmeras.

Além disso, Joaquin Phoenix parece imbatível na disputa de melhor ator no papel de um alcoólico perturbado.

O longa sobre as origens de um culto chamado de "A Causa", que nos remete à cientologia, tem a vantagem de uma concorrência pouco estável. "Pietà", que pode estragar a festa, tem amantes fervorosos, mas a violência chocante do longa do coreano Kim Ki-Duk pode assustar os jurados como fez com vários jornalistas -Cho Min-Soo, por outro lado, pode sair de Veneza levando o prêmio de melhor atriz.

"To the Wonder" dificilmente repete a façanha de "A Árvore da Vida", vaiado em Cannes e vencedor da Palma. Mas nunca conte com Malick fora da competição.

Os italianos acreditam que "Bella Addormentata", de Marco Bellocchio, é forte candidato ao prêmio principal. Seria o primeiro filme da casa a ganha o Leão desde "Assim É que se Ria", de 1998.

Mas as sutilezas locais do roteiro podem não conquistar o júri.

ERROS E ACERTOS

Alberto Barbera, diretor do festival, acertou em diminuir a lista de competidores, trouxe bons filmes, e percebe-se facilmente que o diretor quis injetar temas no evento -no caso, fé e família.

O problema é que ele talvez tenha ido muito a fundo nessa vontade, escolhendo obras como o israelense "Fill the Void", sobre casamentos de judeus ortodoxos em Tel Aviv, e "At Any Price", sobre uma família do cinturão do milho americano. Filmes que certamente passariam despercebidos se Barbera não estivesse obcecado por um evento conceitual.

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