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Coreano canta ao levar Leão de Ouro pelo ultraviolento "Pietà"

Longa de Kim Ki-Duk sobre um brutal agiota de Seul bate excelência técnica de "The Master"

Cerimônia foi marcada ainda pela confusão do presidente da comissão julgadora na hora de entregar premiações

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Kim Ki-Duk adora surpreender. E não apenas em seus filmes. Mesmo carregando o Leão de Ouro de melhor filme do 69º Festival de Veneza por "Pietà", entregue na noite de sábado, o sul-coreano atende os jornalistas, fugindo de qualquer protocolo.

"Estúdios americanos estão interessados em meu trabalho, mas a fama não vai me transformar", conta à Folha.

"Faço filmes com o coração e não para agradar o público. Estou feliz e espero que mais pessoas vejam meus longas no meu país." Problema dos coreanos. Ki-Duk é um dos diretores asiáticos mais interessantes no momento.

Não fez universidade de cinema, estudou para ser padre, trabalhou no exército coreano e como pintor. E ainda recebeu o prêmio cantando uma tradicional música triste de seu país. "Mas eu canto quando estou alegre. São as ondulações da vida."

"Pietà" custou apenas US$ 100 mil (R$ 200 mil) e não faz concessões para agradar. A trama filmada no bairro barra-pesada de Cheonggyecheon, em Seul, sobre um brutal cobrador de dívidas de agiotagem, vivido por Lee Jung-Jin, é ultraviolenta.

"A Coreia está crescendo demais e muitos se esquecem dos seres humanos que moram nesses bairros, que parece a área onde cresci", conta o Ki-Duk. "Fiz esse filme para falar sobre o mal do capitalismo extremo."

ESTILOS OPOSTOS

O cinema "na raça" do coreano contrasta com o estilo técnico detalhista de Paul Thomas Anderson, o outro grande vencedor da noite.

"The Master" levou o Leão de Prata de direção e a Coppa Volpi de ator para a dupla Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, que foi receber o prêmio em nome da produção, já deslocada para o Festival de Toronto.

"Planejo todos os detalhes, mas, quando trabalhamos com um ator surpreendente como Joaquin Phoenix, tudo é jogado fora no primeiro dia de filmagem", fala Anderson à Folha. "Desde o meu primeiro filme, sou paranoico com detalhes, porque sempre acho que a equipe vai descobrir que sou uma farsa."

O prêmio para Anderson, assim como seu filme, sobre as origens da cientologia, veio com uma certa confusão.

O presidente da comissão julgadora da competição, Michael Mann, trocou a categoria pelo prêmio especial do júri, vencido por "Paradise: Faith". Quando o austríaco Ulrich Seidl subiu ao palco para pegar o seu Leão de Prata de direção -que, na verdade, já havia sido entregue para Anderson-, recebeu o pedido de desculpas de Mann.

O cineasta americano ainda causou mais controvérsia ao anunciar que o primeiro critério de escolha dos vencedores foi a regra do festival, que impede que o filme escolhido para o Leão de Ouro leve em outras categorias.

"Não foi uma escolha fácil", discursou o presidente do júri após a cerimônia. "Tivemos quatro longas reuniões e escolhemos premiar Paul Thomas Anderson com a direção. Mas temos seu filme em alta consideração."

O resto da noite foi tranquila. Os italianos levaram os prêmios de consolação de ator revelação (Fabrizio Falco, por "Bella addormentata" e "È Stato Il Figlio") e contribuição técnica à fotografia (Daniele Ciprì, diretor de "È Stato Il Figlio").

Olivier Assayas ficou com o melhor roteiro por "Après Mai", que fará parte da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e trata de sua juventude nos anos 70, quando queria fazer cinema.

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