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Folhateen

Rito de passagem

Como é a cerimônia que marca o começo da adolescência de meninas judias

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

"Vamos lá! Eu quero tchu, eu quero tcha..." O fotógrafo quer animação. Flash!

Naquela tarde de domingo, 34 garotas posavam, mandavam beijinho e faziam corações com a mão no pátio da Congregação Israelita Paulista, na Bela Vista.

Usando vestidos brancos, estilo princesa, e sapatilhas prateadas, elas encaravam uma das passagens mais importantes de suas vidas.

"Você entra menina e sai mulher", explica Gabriela Levy, 12. É na idade dela que as judias comemoram o bat-mitzvá, que quer dizer "filha do mandamento". A cerimônia marca uma espécie de maioridade social e religiosa para elas -algo como um baile de debutante, quando a garota deixa de ser vista como criança pelos mais velhos.

Fãs de Demi Lovato, muitas com aparelho nos dentes (elásticos coloridos são os preferidos), elas estão animadas e já imaginam responsabilidades futuras. Um desafio muito citado são as 25 horas de jejum no Yom Kippur, o Dia do Perdão. Neste ano, será no próximo dia 26.

A versão masculina, celebrada aos 13 anos, costuma ser mais falada: o bar-mitzvá. E ficou ainda mais pop nos últimos dias, quando o jovem Nissim Ourfali postou na internet um vídeo produzido especialmente para sua festa. Essas produções custam em média R$ 2.500.

Para quem ainda não viu, corra ao YouTube -descrever é bem menos legal. Mas a gente tenta: a produção inventa uma letra nova para a melodia de "What Makes You Beautiful", da banda britânica One Direction. Com os novos versos, você passa a saber que Nissim gosta de ver o seriado "Friends" e adora ir à Baleia, praia do litoral norte de SP.

"Achei realmente engraçado. A gente fica cantando em todas as aulas", diz Luna Pesso, 12, antes de ponderar: "Mas o mitzvá é para você pensar, não para ficar postando no Facebook".

Livia Dentes, 13, adorou. Imagina um vídeo próprio, com a música "Up All Night", também do One Direction, "e algo holográfico".

Graziela Cohen, 12, balança a cabeça de um lado para o outro. "Sem comentários. A música é viciante. Só não sei por que ele pôs na internet." Pior: ela tem um priminho bebê chamado Nissim. "Sempre acho que estão falando dele."

Mas Nissim, o de 13 anos, não é baleia fora d'água. Jovens da sua idade estão acostumados a digitar primeiro e perguntar depois. Não à toa, o rabino sabe direitinho o que falar para prender a atenção do público.

"Vocês usam Facebook?", pergunta às 34 alunas do colégio I.L. Peretz que passam por seu bat-mitzvá. Aos olhares de "duh, cla-ro!", ele continua. Há "viagens virtuais e reais", diz. E elas estão "no ponto-chave da viagem que se chama vida".

No palco, elas sorriem, assistidas por parentes e amigos -homens sentam de um lado da plateia, mulheres do outro. Também cantam, no hebraico aprendido na sala de aula, canções sobre a "mulher virtuosa".

Depois, um pai cita, ao microfone, a música "Forever Young" (para sempre jovem), de um célebre artista judeu. É Bob Dylan. As alunas conhecem "porque a professora de inglês passou na aula", afirmam.

'BATLADA'

Uma mãe lembra à filha que, há muito tempo, ser reconhecida como "gente grande" aos 12 anos significava "estar pronta para casar". Os tempos são outros, claro.

Gabriela Levy, por exemplo, fez uma "batlada" para celebrar seus 12 anos.

Sua festa misturou muita música dançante e momentos típicos de cerimônias judaicas, como o "levantamento na cadeira" (quando os convidados a içaram no ar).

Tatiana Cury, 42, tem uma empresa de festas em SP e se especializou em bat-mitzvá. "Elas amam, se acham as modelos. Adoram Michel Teló."

E a atitude das meninas judias, diz, "é mais bacana". "Tem lugar de São Paulo que não aceita festa de 15 anos. Enchem a cara, destroem tudo..."

Mas a mulher ainda está em segundo plano na família, acredita Tatiana. "O pai gasta até R$ 1 milhão com o filho. No 'bat', dá R$ 100 mil com dó."

Bruna Souza, 13, acha que isso muda aos poucos. "É tipo futebol. A equipe dos homens é mais famosa. Só outro dia descobri que tinha uma feminina."

Já sua colega de turma Nina Kirchenchtejn, 11, não está nem aí. "Hoje estou me sentindo com tudo!", brinca. Mazel tov!

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