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Entrevista - Nicholas Serota

São Paulo se tornou um centro para a arte contemporânea

DIRETOR DA TATE, DE LONDRES, VÊ CONFIANÇA E ESTABILIDADE NOS MUSEUS E MOSTRAS DO BRASIL

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Nicholas Serota quase não chama a atenção. Usa ternos discretos, de corte justo, e caminha rápido na multidão, quase imperceptível. Fala baixo, com longas pausas, e parece avesso a flashes e holofotes, ao contrário da instituição que ele representa.

Faz 24 anos que esse britânico comanda a Tate, de Londres, o museu de arte moderna mais frequentado do mundo, com 5 milhões de visitas ao ano, um orçamento que beira os R$ 250 milhões e uma coleção de 70 mil obras.

Mesmo com a sua experiência, Serota diz que está no Brasil para "aprender".

Fechou uma parceria com a Pinacoteca do Estado, que considera um "museu modelo", e vê nas instituições brasileiras um novo senso de "confiança e estabilidade".

Depois de dedicar retrospectivas a Hélio Oiticica e Cildo Meireles, ajudando a posicionar o Brasil no contexto global, a Tate vai abrir no segundo semestre de 2013 uma mostra dedicada à artista suíço-brasileira Mira Schendel.

Serota falou com a Folha durante a abertura da Bienal de São Paulo na semana passada. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

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Folha - Como o sr. vê o atual momento na arte brasileira?
Nicholas Serota - Parece haver mais confiança em São Paulo, mais do que antigamente. Primeiro porque o país está muito bem colocado na economia mundial. Em segundo lugar, há uma sensação de estabilidade e propósito na Bienal, que parece ter estado ausente em suas últimas edições.
Tenho a impressão de que esse seja um momento de força. Há interesse internacional pelo que acontece no Brasil e uma nova orientação do mundo da arte de olhar para outros lugares, distantes de Nova York e da Europa. São Paulo agora também é um dos centros globais.

Por que a Tate se interessa tanto pelo Brasil hoje?
Em 2000, decidimos que precisávamos ver o mundo com mais abrangência. Para nós, o primeiro lugar para olhar era a América Latina, em especial o Brasil, por causa de figuras históricas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel, mas também pelos contemporâneos.
Nosso interesse começou pelo que estava acontecendo na arte daqui nos anos 1950 e 1960, e aumentou cada vez mais por causa do que vemos acontecer agora no país.

Como será a mostra dedicada à obra de Mira Schendel?
A exposição está sendo preparada por curadores da Tate e da Pinacoteca juntos. O propósito da exposição será apresentar o caráter exemplar do trabalho dela e sua fragilidade. Não parte só de pequenos exemplos, e sim de um amplo recorte dessa produção, um olhar sobre a evolução de seu trabalho.
Também vamos conduzir novas pesquisas e produzir novos escritos sobre a artista.

Como o sr. avalia essa parceria com a Pinacoteca do Estado?
Acredito que podemos aprender muito com a experiência daqui. Esse tipo de parceria é mais importante do que criar satélites da Tate em outros países. Não estou interessado em fazer uma exposição em Londres para depois trazer a São Paulo.
Ainda estamos discutindo projetos futuros. Nossas discussões estão mais avançadas com a Pinacoteca por ela ser mais desenvolvida. É um museu modelo para nós.

Por que é um modelo?
Visitei a nova organização do acervo da Pinacoteca e vi ali alguns princípios museológicos muito interessantes sendo desenvolvidos. Nos quatro cantos do prédio, além da apresentação cronológica, eles têm quatro recortes mais aprofundados. Esse é um plano que vamos implantar na Tate Britain.

O papel de um museu, além de realizar exposições, é produzir novo conhecimento sobre a obra de um artista?
Museus têm a ver com conhecimento, eles servem para colecionar, examinar, dissecar e apresentar esse conhecimento para outros estudiosos e para o público.
Essa função do museu permanece, é isso que dá autoridade a ele e um domínio sobre seu programa. Sem uma vocação para pesquisa, o museu só se repete em vez de inventar. O público respeita instituições mais engajadas nesse tipo de atividade.

Cerca de 40% do orçamento da Tate vem do governo. O museu tem metas de público para atingir por causa disso?
Somos um grande museu, que recebe muito dinheiro público, então temos que atrair um grande público, mas não montamos nossa programação pensando só em sucessos de bilheteria.
Devemos prestar contas, mas é preciso ser avaliado a longo prazo, não ano a ano. Museus servem para pensar sobre os próximos cem anos, não só as próximas semanas.

Como a Tate se compara hoje a outros grandes museus?
O que a Tate tem feito é apostar no contemporâneo e, por meio disso, dar novas interpretações de arte histórica. Fomos mais ousados do que outras instituições na tentativa de colecionar artistas de outras partes do mundo.

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1151120

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