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Crítica teatro

Nelson Rodrigues perde força em montagem de 'A Falecida'

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O gênio adormecido. Marco Antônio Braz encena "A Falecida", de Nelson Rodrigues, sem extrair deste clássico do teatro brasileiro moderno suas latências.

A encenação tem uma ideia dominante, que determina todas as opções do diretor mas reduz as potencialidades da peça.

A primeira montagem, em 1953, marcou uma inflexão na obra dramática de Nelson. Depois de uma década escrevendo tragédias para ambientes fechados e com situações míticas, ele se abria às ruas dos subúrbios cariocas e narrava o cotidiano insosso de seus moradores.

A personagem central, Zulmira, compensa todas as suas frustrações mirando uma morte gloriosa e um "enterro com penacho". Cumpre a trajetória de uma heroína fadada a satisfazer esta morbidez atávica.

Seu marido, Tuninho, com temperamento solar, sublima todas as mazelas na paixão pelo Vasco. Ele só se preocupa com a final do campeonato, que ocorrerá na última cena, passada no Maracanã.

O encenador construiu todo o espetáculo em torno desta cena final, revestindo-a com um tom apoteótico.

A opção condicionou exageradamente a cenografia e os figurinos e projetou os personagens centrais como "casal Zé Ninguém", alegorias de uma triste palhaçada: a pátria de chuteiras e esquecida de seus filhos.

Outra decisão discutível foi, ao utilizar-se das saborosas rubricas de Nelson para enriquecer a narrativa, enunciá-las através de um novo personagem, o próprio autor, inexistente no original.

Antes de distanciar o espectador para que melhor examine aquelas criaturas, o dispositivo as enfraquece como seres reais e as aproxima da caricatura.

GRANDEZA

Lucélia Santos desempenha melhor como a Zulmira dos dois primeiros atos, retraída e estranha, do que no terceiro, em que se revela seu passado devasso. O Tuninho de Rodrigo Fregnan destaca-se como esteio da montagem, consequência de seu talento e da estratégia do diretor, que favorece seu protagonismo.

Nelson Rodrigues é um grande autor, mas a montagem de suas peças não reafirma por si essa grandeza. Às vezes, certas alternativas, mesmo temperadas por boas intenções, podem escondê-la.

A FALECIDA
QUANDO sáb., às 20h30, e dom., às 20h; até 2/12
ONDE Centro Cultural Fiesp (av. Paulista, 1.313; tel. 0/xx/11/3146-7405)
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular

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