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Família portuguesa

Novo filme de Manoel de Oliveira lidera leva de lusitanos na Mostra de SP, em outubro

Divulgação
Cena do filme "O Gebo e a Sombra", de Manoel de Oliveira
Cena do filme "O Gebo e a Sombra", de Manoel de Oliveira

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

Aos 104 anos, Manoel de Oliveira pode carregar o apelido de pai do cinema português. E o diretor mais velho do mundo em atividade trará vários de seus "familiares" para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

"O Gebo e a Sombra", seu novo longa, será uma das atrações do evento, que começa em 19 de outubro (os ingressos serão vendidos seis dias antes) e dará uma atenção especial às obras do além-mar.

Caso de "Repare Bem", dirigido pela atriz Maria de Medeiros, "Tabu", coprodução luso-brasileira que destacou-se no Festival de Berlim, e o épico de guerra "Linhas de Wellington", sobre a invasão francesa a Portugal.

"A lição que Manoel de Oliveira passa é que você precisa ir mais devagar", conta à Folha o veterano ator Michael Lonsdale, 81, famoso por seu papel em "O Nome da Rosa" (1986) e pelo vilão de "007 Contra o Foguete da Morte" (1979), trabalhando pela primeira vez com o lusitano.

Apesar do que pode sugerir a declaração, não convém achar que Oliveira é lento. O diretor (e roteirista) filmou "O Gebo e a Sombra", adaptação da peça escrita por Raul Brandão, em 25 dias e não compareceu à divulgação do longa em Veneza porque já está preparando um novo projeto.

"A ideia era filmar primeiro no Brasil a adaptação de 'A Igreja do Diabo' [trama que une três contos de Machado de Assis], mas achamos que o assunto de 'O Gebo e a Sombra' era mais pertinente aos nossos tempos", avalia o produtor Luis Urbano.

"Manoel tem uma energia incrível. Nunca filmamos em um período de tempo tão curto", exalta a italiana Claudia Cardinale, lenda do cinema. "É um diretor gentil", diz Lonsdale, que já rodou com Orson Welles e Luis Buñuel.

"Buñuel era um sujeito esquisito. Certa vez, pediu-me para segurar uma taça de vinho acima da minha cabeça e, quando perguntei o porquê, ele só respondeu: 'Porque me dá prazer'.", lembra.

"Oliveira, por outro lado, fala baixo e com poucas palavras." "O Gebo e a Sombra" reflete essa calmaria. É um filme com alma de teatro, passado basicamente na sala de estar da família de um contador (Lonsdale), que esconde da mulher (Cardinale) a razão de o filho João (Ricardo Trêpa) estar longe de casa.

Quando ele retorna, surge uma discussão sobre honestidade, acomodação e pobreza, que reflete a crise econômica e moral enfrentada pela sociedade contemporânea.

"É um filme sobre dinheiro e pobreza, mas Manoel certamente diria que é sobre a condição humana", acredita o ator Luís Miguel Cintra, parceiro do cineasta há pelo menos 30 anos.

DITADURA

Falar sobre a condição humana é o que também atraiu a atriz e diretora portuguesa Maria de Medeiros ao documentário "Repare Bem".

Ela reconta, através de depoimentos emocionados, a história de Denise Peres Crispim e Eduarda Ditta Crispim Leite, viúva e filha, respectivamente, de Eduardo Leite, o Bacuri, militante de esquerda torturado e morto durante a ditadura no Brasil.

O projeto foi selecionado num edital convocado pela Comissão de Anistia do governo brasileiro. "Faz parte do processo democrático o crescimento da verdade, e o público precisa ter acesso", afirma Maria de Medeiros.

"Repare Bem" tem momentos inspirados, como a coincidência de Denise morar no apartamento usado por Ettore Scola em "Um Dia Especial" (1977). "A repressão tem tudo a ver com a história que Scola contou. Foi algo extraordinário", diz a cineasta.

"Tabu", de Miguel Gomes, e "Linhas de Wellington", de Valeria Sarmiento, viúva de Raoul Ruiz, também farão sua estreia no Brasil na mostra.

O primeiro é um romance delicado contado em flashback por uma mulher no leito de morte e um idoso que a conheceu quando era mais jovem nas colônias portuguesas da África.

O segundo foi recém-exibido em Veneza e mostra, sob o olhar de vários personagens, a estratégia do general Wellington (John Malkovich) para expulsar os franceses de Portugal e o sofrimento de quem passou pela guerra.

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